sexta-feira, dezembro 31, 2004

26. Feliz Ano Novo!




A tarde avança sem, ainda, se vislumbrar os primeiros sinais do despertar da noite que marcará a passagem para mais um novo ano. Aguardam-se, expectantes, os novos dias... repensa-se no ano que findou e expectantes ansiamos pelos dias por vir!

Neste impasse do tempo, surge o momento em que nos recordamos daqueles que ocupam um lugar especial no coração e, enviamos um sem número de mensagens, efectuamos outros tantos telefonemos e respondemos a uma infinidade de emails.

Na rua as pessoas andam apressadamente enquanto realizam os últimos preparativos ou, simplesmente, tentam chegar, o quanto antes, a um qualquer lugar. Outro dia que fosse o seu semblante seria certamente carregado, dominado pelo stress da correria. Hoje, com a certeza de que em breve abraçarão meia dúzia de seres queridos ao som das doze badaladas, nada disso surge caracterizado nos traços dos seus rostos. É vê-los a sussurrar - Feliz Ano Novo- a todos com quem trocam meia dúzia de palavras!

As horas vão passando e, também eu, tenho que me apressar e enredar neste corrupio que a todos abraça... Resta desejar a todos que o Novo Ano vos brinde com o que de melhor a vida tem!

Feliz Ano Novo! Até para o ano...

terça-feira, dezembro 28, 2004

25. "Em busca da Esperança" Syrius


Syrius


Uma promessa suspensa no ar, um vazio por preencher enquanto se vai adiando amar...
Uma pergunta silenciosa que nos teus olhos se pressente mesmo quando sem os contemplar é a tua imagem que surge na alma ampliada!

Dava tudo para conhecer o teu sorriso e, afinal, adivinhar as mil quimeras... que te sei sentir!

Um projecto mundial, uma solidariedade dita infinita e, no entanto susténs esse ar, interrogativo e perdido no nada, como que a perguntar:
Consegues ver-me?!

A hora tardia da noite permite-me devaneios e imaginar-te a poder ser criança, na verdadeira acepção da palavra, com todos os teus direitos a serem fielmente respeitados!

Na verdade és uma entre muitas, aparentemente apenas um rosto, que tocou o ponto mais profundo da minha essência e dilui o pensamento até um estádio em que apenas existes tu!

Neste momento, raso de ausência, não consigo evitar fixar-te a mirada... numa vã tentativa de descortinar o teu ser!

Pudesse eu abraçar o teu corpo frágil e sorrir-te com a certeza de que amanhã o teu dia será melhor... e também eu me sentiria alguém mais capaz!

A realidade é por vezes cruel! Não basta dedicar-te meia dúzia de minutos de reflexão ou o calor da emoção que fazes brotar no meu peito; só a cooperação dos países e da população que representam poderá fazer surgir o fruto que almejamos,! Todos juntos... todos unidos, numa luta sem tréguas por um mundo MELHOR!

A quilómetros de distância, continuo a sonhar acordada, enquanto divido a minha atenção entre os teus olhos e as letras que proclamam os Objectivos do Milénio decretados pelas Nações Unidas!

Folheei as páginas... absorvi-lhes o sentido! Recordo noticias e mais que isso relembro que fazes parte dos milhões de crianças em risco, enumerados recentemente pela ONU.

Triste realidade esta que te abarca! Mais do que vítima da força da natureza que devasta colheitas e arrasa edifícios, és sujeita à maldade e comodismo do Homem.
Parecerei pessimista mas tal característica não faz parte do meu carácter ainda que, nesta hora perdida de um qualquer dia, encarne um estado profundo de cepticismo em relação ao teu futuro...

Não resisto a voltar analisar os contornos das tuas feições enquanto recupero as palavras e reconstruo as frases...

Uma promessa suspensa no ar, um vazio por preencher enquanto se vai começando a amar... e, de olhos posto no novo dia, se parte em busca da Esperança! A ESPERANÇA de um MUNDO MELHOR!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

24. Feliz Natal!



O murmúrio das vozes chega até mim por entre o som dos carros que passam lá fora e entre o roufenhar da máquina de café... O tema?! Esse, todos o conhecemos: Natal!

É então, aqui sentada no café do costume, tão pertinho de casa que me basta atravessar a rua, que começo a escrever aquela pretensa mensagem de Natal!
“Meia dúzia” de palavras destinadas aos amigos... a conhecidos ou ainda, a desconhecidos que por algum acaso acedam ás singelas páginas do blog recém criado!

Como todos os anos rumarei à cidade que há 30 anos me viu nascer e confesso-me culpada! Talvez não me recorde de enviar um interminável número de sms... ou de fazer os telefonemas da praxe, pois este ano mais que o Natal, o aniversário da mana e de um amigo querido, também se há-de comemorar o Primeiro Natal do meu sobrinho! Um menino lindo com seis meses que me transformou numa tia babada!

Que me desculpem pelos jantares a que não fui, os cafés que não me foi possível tomar, as caminhadas que não realizei ou simplesmente os textos que não escrevi e as publicações que ainda estão por ler... porque, realmente, algo muito especial continua imperativamente a fazer-me fugir de Lisboa, um ou outro, fim-de-semana. A família!
Que quererei dizer com tudo isto?!
Talvez pretenda, apenas, desejar-vos tantas ou mais alegrias do que aquelas com que tenho sido brindada. Mais que isso... que nesta quadra tudo seja sorrisos afáveis, abraços sinceros, uma felicidade imensa... acompanhada de perto pelos entes mais queridos e aqueles que enxergam além da aparência e nos amam incondicionalmente!
Em resumo, e para não transformar a “meia dúzia” de palavras numa ode à família e ao Natal...

...desejo-vos a VÓS e à vossa FAMÍLIA o mais FELIZ NATAL!

quarta-feira, dezembro 22, 2004

23. Sina desgraçada...




Uma esquina que se dobra,
um avançar que se não logra!

Dedos despidos que não se sentem,
auguros que não se pressentem!

Luzes que se admiram,
sonhos que não se reconstruíram...

Amor que não se sente,
sentimento que não se consente!

Natal que se avizinha,
calor que não se adivinha...

Na imensidão da noite inóspita
há crianças que choram,
há velhos que tremem de frio...
há ceias que não se partilham,
solidão que não se atenua...
e o tempo não recua!

Percorres as ruas silenciosas,
durante um "breve" instante do teu caminhar...
Sabendo ter por tecto céu e estrelas...
que, afinal, não podes comtemplar!
Sina desgraçada,
A que te foi reservada!
Um pesadelo do qual não despertas
enquanto os pés descalços...
tacteiam as pedras da calçada
e te sabes tão sozinho no mundo
como um náufrago em ilhas desertas!

Nenhuma luz! Nenhuma esperança!
Apenas um contentamento descontente
de te saber vivo...
numa espera constante pelo negrume, que te abraça...
no momento em que o pensamento te ultrapassa!

Passo por ti, não te vejo!
Ou talvez não te queira ver...
tal como também tu não me desejas ter na tua mirada!
Ainda assim, sei que existes!
...que o teu coração, tal como o meu, bate descompassado!
Como eu usas máscaras...
e como eu... raras vezes abandonas a tua redoma!
Mas ao contrario de mim...
não terás uma família a olhar por ti
ou com quem partilhar o momento
e sorrir, ternamente, quando as doze horas badalarem!
A tua fogueira não terá chamas
e os teus presentes serão paralelos de granito!
A canção de natal que se acercará de ti
será tão somente o surdo grito...
da solidão... do frio... do abandono!
Nessa hora... não me lembrarei que existes algures...
mas numa outra... incerta no tempo a memória retornará!
E agora, que te digo isto,
sei-o!!
Haverá uma lágrima a espreitar o mundo,
uma revolta a crescer...
e uma culpa a ressentir-se
de anos a fio de alheamento profundo
desprezo absoluto...
desta consciência que tardou a renascer!

Procurarei por ti...
nas ruas despidas,
nos recantos mais escabrosos,
nas velhas casas rejeitadas até pelos fantasmas
ou, tão somente, no aconchego precário das pontes...
Espero encontrar-te!!
E poder, finalmente, dizer:

Não me esqueci de ti!

domingo, dezembro 19, 2004

22. Viagem...



A música envolve o ambiente da pequena carruagem e abafa um ou outro ruído que o doce deslizar sob o carris vai provocando.
Anoiteceu há instantes e para lá da vidraça que me reflecte o rosto pouco é possível vislumbrar... É assim que, sentada no confortável assento do comboio que liga a Beira Baixa a Lisboa, não resisto a pegar uma vez mais na caneta e rabiscar meia dúzia de ideias para os próximos texto a editar.
Vez por outra, impulsionada, pela música inspiradora solto o olhar e contemplo-me como se me redescobrisse a cada instante mas... mais que a mirada, solto o corpo e ali mesmo, no pequeno espaço que ocupo, sinto-me dançar... rir... como se o mais profundo do meu ser se libertasse irreverentemente!
Claro está que para o comum dos passageiros sou apenas uma figura solitária, serena e distante... muito comedida... sempre envolta em blocos, livros, jornais e revistas!
Nenhum indício desta euforia interior trespassa... Nenhum traço oblíquo que denote a paixão que se acerca de mim a cada despontar da alvorada.
Discretamente, a linha dos lábios volta a curvar-se algo trocista... com o seu quê de ironia!
O tempo urge... o senhor do tempo não espera e a noite avança... na mesma medida em que os pensamentos voam...
Crio, este e aquele esboço para um pequena critica... uma opinião fundamentada em mil pesquisas ou simples contos reflexos de histórias de amor não vividas porque o recato, a sensatez ou a simples censura própria o não permite... e ainda assim pareço ter presenciado cada instante de luxúria.
A imaginação fluí... enquanto as primeiras estrelas salpicam o céu e me acerco de Lisboa.
Retorno a casa... ao meu pedacito de paraíso (quase!) perfeito, redescoberto a cada regresso! Inevitável não sorrir e não sentir o calor invadir-me o corpo... É bom reencontrar o abraço sereno da almofada companheira de sonhos e pesadelos, confidências banais ou segredos com a certeza de que amanhã o sol voltará a despontar no horizonte!

quinta-feira, dezembro 16, 2004

21. "À Procura da Terra do Nunca" Marc Foster



A imaginação prodigiosa de um ser altera rotinas, gera paixões, amores, frustrações, delírios esporádicos ou não, com a estampa da loucura a sobressair ou, simplesmente, uma vaga de atentados à integridade física e moral. Por vezes, também ambição, determinação ou evolução! É assim na ciência, na literatura, no cinema... na política ou tão somente na vida.
O mesmo dispersar da alma que pode levar a um voluptuoso êxtase, um clímax audacioso que não se limita ao amor carnal, místico ou ao platónico, que vai além do Homem-Mulher, permite-nos, todos os dias, deparar com novos elementos que o comprovam sob os mais distintos disfarces.
Leonardo Da Vinci, Napoleão Bonaparte, Celéstin Freinet, Albert Einstein, até nomes como Adolf Hitler, que nos atinge sob a forma de um punhal cravado no ventre desprotegido, são exemplos de Homens que movidos pela imaginação nos fazem inquirir aonde nos poderá levar a dispersão dos pensamentos.
Também o cinema abraça com eufórica motivação esta questão e prova disso é o filme "À Procura da Terra do Nunca", a estrear nas salas de cinema nacionais a 30 de Dezembro.
Inspirado em momentos da vida do escritor escocês James Mathew Barrie (1860-1937) e realizado por Marc Foster retracta o período decorrido entre a primeira inspiração do escritor até à première no Duke of York’s Theatre.
Finding Neverland, no seu título original, foi inspirado na peça de teatro The Man Who Was Peter Pan, escrita por Allen Knee e é afinal a história de um homem determinado que desafiando o meio que o circunda, se envolve com uma mulher jovem, bonita, viúva e com 4 filhos. É do lado desta família adoptiva que reúne as condições necessárias para que desde o mais profundo do seu ser lhe provenha a inspiração criadora do herói "ficcional" que todos conhecemos como Peter Pan.

"Finding Neverland", o nome original daquele que é considerado o Melhor Filme do Ano pela National Board Of Review. Johnny Deep, Kate Winslet, Julie Christie e Dustin Hoffman os rostos das personagens. Londres, o cenário. James Mathew Barrie, o mote que nos faz questionar uma vez mais:
Aonde nos irá levar a imaginação?
Provavelmente a uma sala de cinema onde por momentos deixaremos que a alma se abstraía da realidade?!

À Procura da Terra do Nunca

segunda-feira, dezembro 13, 2004

20. "História Breve da Lua" A Barraca



A Lua, também designada Luna pelos Romanos, Selena e Artémis pelos Gregos, e outros distintos nomes nas mais variadas mitologias, é conhecida desde a pré-história e o único satélite natural da Terra. À sua volta histórias, simples contos ou lendas foram ao longo dos tempos surgindo; umas para explicar a sua trajectória, outras o seu brilho ou somente as manchas que a olho nú todos podemos contemplar.

Em Portugal, reza a lenda que, outrora, um homem já depois de ter sido avisado para não trabalhar ao Domingo foi cortar silvas. Deus castigou-o e determinou que passaria a viver na Lua para que todos se recordassem, eternamente, de que neste dia da semana não se deveria trabalhar.

A Barraca, uma Companhia de Teatro que cumpre, em 2004, 28 anos de ininterrupta actividade promove sob o tema da Lua uma peça infantil. Através da dinamização de um texto de António Gedeão permite, a pequenos e graúdos, descobrir que aprender pode ser divertido.

Estreada a 12 de Dezembro e em cena até Março de 2005, em Lisboa, é mais uma das provas vivas de que a lenda passou de geração em geração.

Esquadrinhadas todas, ou quase todas, as publicações em que figurou menção ao referido espectáculo apurou-se que, segundo o encenador Gil Filipe, a escolha do texto de António Gedeão justifica-se "Porque se trata de um poeta português que tem estado muito esquecido, porque o texto fala da aprendizagem e transmite aos jovens que aprender é divertido e dá prazer, porque alia de uma forma muito divertida a poesia à ciência e porque é um clássico infantil".

O enredo surge, no início, para relatar a lenda que corre, de boca em boca, desde tempos imemoriais e que serve, desta forma, de introdução ao verdadeiro objectivo, o de relatar, de modo recreativo, toda a verdade sobre as manchas da lua, como cresce, se enche, mingua e desaparece.

Para que tal se leve a cabo são introduzidas personagens que surgem perante o espectador sob a imagem de dois amigos - Jerónimo e Agapito, que com a ajuda de uma terceira figura fictícia - o Astrónimo, vão levantando o véu que esconde o mistério.

Um dos amigos defende a "teoria" relatada pela lenda, e o outro, mais racional e ciente da explicação científica dos factos, que esta não tem qualquer fundamento. A dada altura, encontram o Astrónimo que os irá ajudar a desvendar o enigma e perceber o que na realidade ocorre quando a Lua se apresenta nas suas 4 fases.

"História Breve da Lua" mais que uma simples peça de teatro, um instante de entretenimento ou puro lazer é um momento – diria - pedagógico em que novos conhecimentos se dão a conhecer aos mais pequeninos de forma divertida e inteligente provocando as suas gargalhadas e mantendo uma participação interactiva em todo o enredo.

Quem não viu... poderá ver!

Eu?! Pretendo, certamente, ver!


Informações adicionais:

TeatroCineArte
Largo de Santos, 2 1200-808 Lisboa
Tel: 213965360 21396275
Email: barraca@clix.pt www.abarraca.com

Horário:
Sábados: 11h30, 16h00
Domingos: 11h30

Bilhetes: 8.50 euros

Ficha Técnica e Artística:

Texto de António Gedeão
Encenação e dramaturgia de Gil Filipe
Música de Alberto Fernandes
Elenco Gil Filipe, Pedro Borges e Susana Costa
Cenografia, adereços e marionetas de Delphim Miranda
Figurinos de Sandra Pereira
Luminotecnia de Fernando Belo
Sonoplastia de Rui Mamede
Grafismo de Susana Marques
Carpintaria de Mário Dias
Produção de Rita Lello e Elsa Lourenço


Colaboração especial de:

Alunos do ATL do Centro Social e Paroquial de S. João de Deus
Alunos da Escola nº 154 de Lisboa
Alunos do Projecto Intervir da J. F. da Lapa

quinta-feira, dezembro 09, 2004

19. Marion Zimmer Bradley



Marion Zimmer Bradley dispensa apresentações se se recordar de títulos como "As Brumas de Avalon", "Filha da Noite" ou o ciclo "Darkover" ou, pelo menos, para aqueles que ao longo dos tempos têm dilacerando de lés-a-lés os seus livros numa ânsia incontida de descobrir o mundo fascinante que relatava.

Nascida em Junho de 1930, em Albany, nos Estados Unidos da América começou desde muito cedo, ainda adolescente, a associar o seu destino à expressão escrita.
Duas décadas depois do seu nascimento era considerada uma "escritora de sucesso fácil", literatura básica, geralmente associada a histórias de sexo e de mistério, publicadas algures em revistas de grande tiragem. Até aqui nada existia que fizesse antever o que o futuro lhe reservara.

Nos anos 60 e, abrindo horizontes que a sua determinação assim impunha, dedicou-se à produção de romances góticos. Foi nesta altura que começou, finalmente, a delinear-se o seu trajecto de forma mais sólida.

Com o sucesso alcançado obteve os meus necessários não só à sua subsistência mais indispensável como também, a necessária, para subsidiar um diploma universitário.
O tempo passou e a partir dos anos setenta a sua consagração mundial através do ciclo "DARKOVER", formado, hoje em dia, por mais de duas de dezenas de novelas e meia dezena de antologias de relatos, tornou-se uma realidade incontestável.
Actualmente, considerada um dos nomes sonantes da literatura mundial mantém-se indissociável à ficção científica.

A título de exemplo, e para que se entenda o seu valor, poderá ser relembrado que "As Brumas de Avalon", um dos maiores sucessos da escritora, esteve durante três meses na lista dos “bestesellers” do New York Times.

Marion Zimmer Bradley tornou-se ao longo do tempo um nome sinónimo de prestígio e uma das mais lidas no mundo inteiro. Mais que uma escritora norte-americana contemporânea, recentemente falecida (1999) é um ícone da literatura mundial que nos deixou mais de meia centena de livros aos quais deveremos reservar, pelo menos, a leitura de um dos títulos.

Sugestão:

Filha da Noite
Tambores na Noite
A Gratidão dos Reis
A Senhora de Avalon
A Casa da Floresta

As Brumas de Avalon - Rainha Suprema
As Brumas de Avalon - O Rei Veado
As Brumas de Avalon - O Prisioneiro da Árvore
As Brumas de Avalon - A Senhora da Magia

O Poder Supremo - O Círculo de Blackburn
O Poder Supremo - As forças do Oculto
O Poder Supremo - A Fonte da Possessão
O Poder Supremo - O Coração de Avalon

Presságio de fogo
Salto Mortal
A Senhora do Trillium
A Herdeira
A Queda de Atlântida

terça-feira, dezembro 07, 2004

18. "A Noite do Oráculo" Paul Auster



Sentado numa redoma de vidro
avistas a vida que passa ...
enquanto tudo te ultrapassa
e apenas sorris... indiferente!

Que busca é a tua?!
Que verdade, nua e crua,
te sustém esse ar de quem sonha
mas que, afinal, se envergonha
deste mundo prostrado....
aos pés da delinquência!!

Recostado... no teu pedestal
Imune à violência
Levantas o nariz num gesto de impertinência!
E então?! Porquê esse franzir de sobrolho?!
Essa lágrima no canto do olho?!
Que não sentes,
nem pressentes?!

Tumultos, mentiras, fingimentos...
Insultos, iras, tormentos...
Vultos que sem rosto não reconheces
enquanto te recusas a sair da escuridão!
Tarda-te o sonho, não?!

Eleva a tua mente...
Abre os olhos!
Conquista essa verdade latente!
Mas vê por onde vais...
Há que perceber o que tens à tua frente!
O mundo é muito mais
do que o teu meio metro quadrado!

Onde fixarás a tua mirada
quando aqui... mesmo ao lado
se abeira de ti esta guerra camuflada
do bem e do mal...
Do certo e errado...?!

Remexeste, nesse recanto, por fim incomodado
pela realidade que te acerca...
Mas persiste no teu recolhimento hipócrita!
Iludes a contagem do tempo!
Mas que grande perca,
se afinal, nada recuperas de cada dia
Senão a egoísta hipocondria
própria de um insignificante parasita...

Que te impede de sair do casulo?
De um dar um pulo...
para lá da ilusão,
conquistar com o coração
a certeza de que a vida, mais que fantasia,
É poesia!?
Mais que alheamento... sentimento!
Mais que indiferença... presença!

Acorda,
que não há quem te atire a corda!
Faz-te à vida!!
E à essência que te corre nas veias!
Que cada dia é um entrançado de teias
onde mais que vencer ou perder...

Há que aprender a Viver!

domingo, dezembro 05, 2004

17. Relato de uma tarde...



Recostada na cadeira do Cup&Cino, uma coffee house, pertinho do Vasco da Gama mas longe o suficiente para não ser assaltada pelos compulsivos consumidores que por lá circulavam, resolvi-me, finalmente, a falar na primeira pessoa prostrando, por momentos, as criações que a imaginação fértil por vezes tem ditado e editado neste blog.
Hoje, depois de dias a fio, repartidos entre trabalho e mais trabalho, resolvi-me a dedicar o dia a mim mesma e a coisas, aparentemente, fúteis. Compras e passeio... completariam alguns exemplares da comunidade masculina do país!
Pois é... uma tarde inteiramente dedicada ao ócio, ao consumismo e ao egoísmo próprio de quem gosta de estar consigo mesmo!
Casaquinho quentinho, calcinha de ganga e sapatinho confortável, a indumentária perfeita para embarcar na passeata!
Primeiro, num belo percurso pela zona norte da Expo. O cantinho mais bonito do Parque das Nações e, precisamente, aquele que muitos lisboetas não conhecem.
Divertida a ver pais e filhos de bicicleta ou simplesmente numa amena cavaqueira... fui-me dispersando.
O presenciar momentos como aqueles fazem com que volte a ter esperança... e esquecer aqueles, ditos ciosos, que demasiado compenetrados no trabalho, em problemas existenciais ou atritos conjugais se esquecem do que envolve a paternidade e maternidade. Mas que digo eu?! Filhos não tenho... não me caberá, certamente, fazer juízos de valor!
Saboreei, por fim... o meu café e continuei por ali a deambular até que esgotado o interesse resolvi a enfrentar a fastidiosa multidão ou confusão, como queiram designar... do Vasco da Gama num fim de semana.
De loja em loja, fui comprando os primeiros presentes para os felizes contemplados, com a boa disposição de sempre.
Das raras vezes que parei para olhar os rostos dos que me circundavam constatei, com alguma surpresa, que os seus semblantes estão menos carregados, frios ou rígidos... é como se o espirito de Natal os tivesse possuído por inteiro.
Pena é que, apenas, nesta época se mostrem mais acessíveis e menos... arrogantes!
Mas continuando... Compras feitas, lá me lembrei deste pequeno espaço, de bom gosto e boa música, onde, distante do reboliço consumista, ainda impera uma calma sadia!
Quem não conhece o local... devia conhecer! Mas ainda bem que a sua localização não faz parte do horizonte do seu conhecimento, de outra forma eu teria, simplesmente, ido para casa a maldizer mais um dos espaços alfacinhas!
Como disse, aqui estou!! Feliz... contente... deleitada com o simples facto de ter comprado os primeiros presentes para aqueles que mais amo!
Poderá parecer uma tolice... ou um simples capricho da personalidade, este contentamento! Na verdade, é bom ter a quem oferecer presentes na quadra Natalícia... ou fora dela... não pela obrigação que a “etiqueta” possa exigir mas pelo simples facto de me mover a fazê-lo um sentimento real... mágico e muito especial: o Amor!
O Natal aproxima-se... há crianças que passarão a noite ao relento, velhinhos que não terão uma ceia... pessoas que nascerão... outras que morrerão... outras há que esquecerão as inimizades, os conflitos ou divergências... É inevitável que me questione se alguém se lembrará o que significa o verdadeiro espirito natalício e aquele que vai além de Dezembro?!

Surge, por fim, uma outra pergunta... inevitável e bastante simples:

Porque se esquecem as pessoas de amar ou de o demonstrar, os restantes onze meses do ano?!

sábado, dezembro 04, 2004

16. Hábitos de Leitura:
Um problema social



Em pleno início do século XXI, numa época em que o expoente máximo da informação é a Wordl Wide Web, em detrimento dos livros "fisicos", deparamo-nos com uma crise acentuada, não só no mercado livreiro como também uma crise latente, pojante, ao nível da comunicação.
De um modo ou de outro, há uma minoria inconformada que se mantém fiel à sua paixão.

O cheiro a papel invade-lhes as narinas. As pontas dos dedos acariciam as singelas página. As pequenas palavras estimulam-lhes o pensamento. Sentados num qualquer lugar sentem, dentro de si, o eco das palavras, da literatura e dos conhecimentos aí retractados.
Pesa-lhes o elevado custo e a consciência de que cada folha é parte de uma árvore, algures abatida. Ainda assim, o velho fascinio está lá e motiva-os a persistirem no seu hábito.
A leitura continuada aguça-lhes a expressão oral e escrita permitindo-lhes uma melhor compreensão da informação, tal como, o acesso a um número vais vasto de vocábulos.

Os badalados hábitos de leitura, ou a falta deles, são sem dúvida alguma um problema social, afigurando-se, cada vez mais, indispensável que seja realizada uma conscenciosa reflexão e análise sobre o papel do livro na sociedade portuguesa!
Antes da revolução industrial, século XIX , uma ínfima percentagem da população tinha acesso a livros, muitas vezes considerados bens supérfluos e de ostentação.
Actualmente, apesar de ser reconhecido a todos o direito de saber ler e escrever, muito poucos fazem uso dele na verdadeira acepção da palavra.
Choca-nos a máxima enunciada por Salazar que referia ser suficiente aos concidadãos saber ler, escrever e contar, no entanto, retracta o actual panorama da população portuguesa. Segundo dados apresentados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), relativos ao ano de 2000, cerca de três quartos da população adulta do nosso país apresenta níveis de literacia escrita baixos.
Ler um texto simples de um jornal, saber analisá-lo, ou interpretar um mero folheto médico por forma a saber qual a posologia adequada, são tarefas que poderão tornar-se, para estas pessoas, muito difíceis.

É incontestável. Hábitos de leitura promovem no ser humano um incremento de conhecimentos que elevam a sua capacidade de ler e escrever. O objecto desta constatação (hábitos de leitura) repercute-se não só a nível do desenvolvimento individual como também socio-económico. Assim sendo, justifica-se que a leitura e a eficácia da compreensão/transmissão de informação seja focalizada no contexto de uma política mais global de desenvolvimento cultural.
Mais que um problema do mercado livreiro, das bibliotecas, do sistema de ensino, é uma dificuldade que está, também, directamente ligado à prestação dos indivíduos a níveis como o profissional,.
É deveras importante todo e qualquer apoio e iniciativa desenvolvida no sentido de permitir à população o acesso à leitura, à divulgação de livros e eventos culturais como o teatro, o cinema, a música, as artes plásticas ou simplesmente a literatura...
Marques Mendes, em 2004, na sua intervenção, durante uma conferência organizada pelo Instituto Superior de Comunicação Empresarial e subordinado ao tema «Estratégia de comunicação para o País» referiu que "...o nível de desenvolvimento de uma sociedade não está no seu crescimento económico ou até no seu grau de progresso social. Tudo isso é decisivo. Até porque sem condições de vida não há verdadeira qualidade de vida. Mas o grande problema de uma sociedade - aquele que é estratégico, estrutural e estruturante - está no seu nível de cultura e de formação.
Daí esta pedrada no charco (... ) Pode não ser politicamente correcta. Mas é intrinsecamente séria, genuína e verdadeira. Quando vemos que Portugal tem elevadas taxas de audiência televisiva e baixos níveis de leitura - a começar pela leitura dos jornais (...) esta é uma das causas que pode conduzir à tentação da mensagem redutora. E dessa forma não conduz necessariamente à sociedade mais culta, mais crítica e mais madura que todos estamos verdadeiramente empenhados em construir."

Haverá outra verdade que nos motive mais à leitura do que o sabermos que ler, mais do que prazer, é evoluir?! Ou que delimitar-se o conhecimento a uma mensagem redutora é tão somente refrear-se o nosso desenvolvimento do próprio país?!

quinta-feira, dezembro 02, 2004

15. "O coração tem razões que a razão desconhece." Pascal



Palavras, atiradas ao vento na penumbra da noite,
Sentimentos errantes nas estradas não percorridas,
Partilhas por trocar,
Carinhos por revelar,
E afinal, simples memórias de horas não vividas!

Verdades escondidas nas esquadrias da vida,
Gritos surdos atirados ao vazio,
Correntes por romper,
Porquês por responder,
Somente imagens, frutos ilegítimos do ópio...

A contagem do Big Ben continua impassível...
A essência humana retomou o seu curso,
Como se cada segundo fosse uma mera ilusão....
Um fantasma desaparecido no meio do nevoeiro
Ou na manhã ensombrecida de um dia de Janeiro!

O que foi realidade ou simplesmente impossível?!
O que se transformou num mero concurso
De revelações e conquistas ou ocasionalmente paixão?!
Mágico sonho cruel, outrora mensageiro...
Agora, unicamente, despertar brejeiro!

14. "The life and loves of a she devil"
Fay Weldon

"O amor não é mais que o pressentimento de felicidade ou de dor."



Risos cristalinos, sussurros lascivos,
Ás vezes confidências partilhadas,
Outras, somente, gestos retribuídos,
Como quem na plenitude da sua essência,
No auge do encanto,
Se depara com desejos concretizados,
e... olhares embevecidos!

Olhos cerrados, o coração a desabrochar...
Solidão ausente, a tristeza prostrada!
Tudo é romance e nada dor!
Impera o sonho e a magia!

A mente divaga,
As entranhas incendiam-se,
E cada momento é um passo para lá da razão!
Há caricias que se ousam,
Loucuras que se cometem
E segredos que se revelam!

Tudo é volúpia...
Tudo é intenso...
Tudo é doce...
Mas mais que tudo é Amor! ... e Sonho!

terça-feira, novembro 30, 2004

13. Exercícios de Escrita



Um blog que nasceu do gosto pela leitura... e pelos devaneios que a mente vai ditando! Mais que a dispersão dos pensamentos, pretende apresentar pequenos contos, dissertações, crónicas... cujo tema base terá origem, fundamentalmente, em nomes de livros, citações, provérbios e afins!
Ecos do pensamento, convertidos em prosa ou poesia. Momentos literários, atirados ao acaso de uma hora incerta... em que, mais que imaginar, se escreve!

Assim é, este blog!

12. "A Oeste Nada de Novo, o Blogue da Periférica"


"POR QUEM OS SINOS DOBRAM, Os Meus Livros"
Periférica, N.º11(Outono 2004)


(...ainda a propósito do recém reaparecimento da revista "Os Meus Livros")

"Carta Aberta" ao Sr. Director Rui Ângelo Araújo da revista Periférica:

Pesquisava, eu, assuntos relacionados com a revista "Os Meus Livros" e o seu recém reaparecimento nas bancas quando me deparei com o Blog da Periférica.
Tendo lido algum dos textos aí editados resolvi-me, não a enviar um e-mail "bajulador" mas sim simplesmente a dizer que a nomeada revista ("Os Meus Livros") até pode não fazer falta a Portugal... nem livros aos portugueses mas então não farei eu parte da massa humana que forma o nosso país. Digo isto porque, durante os meses que decorreram entre Maio e Novembro, inúmeras foram as vezes que inquiri os vendedores, nos quiosques lisboetas, sobre o seu paradeiro para então, quando já a julgava perdida, a reencontrar numa pequena loja do Centro Comercial Alvaláxia.
Recentemente, como muitos dos portugueses, também eu me rendi ao fascínio dos blogs e me transformei numa blogger em fase embrionária.
Com efeito o reencontro com essa companheira de longa data serviu de mote a um dos textos editados no Exercícios de Escrita e assim foi, porque na realidade ainda existem portugueses e portuguesas (como diria o político) a quem fazem falta (...muita!) mais que diários desportivos ou revistas vulgarmente apelidadas de "cor-de-rosa".

"Poderão os setenta mil exemplares gratuitos e a forte campanha publicitária prometida pela editora acabar com a indiferença? Tocarão desta vez os sinos, não a finados, mas aleluias?" Rui Ângelo Araújo

Assim o espero, pois se atendermos a que, em Portugal, o nível de iletrados é cada vez maior e os níveis de leitura assumem proporções catastróficas constataremos que a revista "Os Meus Livros" não só é um importante instrumento de divulgação literária como se assume como um forte incentivo à leitura. Espero, também, que contribua para compensar a dificuldade económica que o mercado livreiro enfrenta e ao qual não é muitas vezes permitido a divulgação adequada aos pequenos/grandes tesouros que vão sendo colocados nas bancas.

Como referi inicialmente este não é um e-mail bajulador... mas uma mera opinião pessoal, um grito de Ipiranga ou simplesmente um desabafo de quem sente o fascínio mágico de continuar
a folhear as páginas de um bom exemplar literário!

Até sempre,

Athena

segunda-feira, novembro 29, 2004

11. Amor...



"(...)Quando se é feliz muito novo, a única obsessão que se tem é
aguentar a coisa. Vive-se ansiosamente com a desconfiança, quase
certeza da coisa piorar. O pior é que as pessoas que se habituaram
a serem felizes não sabem sofrer. Sofrem o triplo de quem já sofreu.
É injusto mas é assim.
No amor é igual. Vive-se à espera dele e, quando finalmente se alcança, vive-se com medo de perdê-lo. E depois de perdê-lo, já não há mais nada para esperar. Continuar é como morrer. As pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela."

Miguel Esteves Cardoso

Sentada no velho eléctrico, Matilde, olha para o pedaço de papel na sua mão...
As questões surgem-lhe em torrente... para quê comentar o que não tem comentários?! Para quê procurar outra certeza quando já se possui a verdade?!

A verdade é que existe outro tipo de pessoas que de tão habituadas a sofrer as vicissitudes da vida quando num rasgo do destino se deparam com um momento efémero de felicidade simplesmente convictas de que não será real, o rejeitam! Rejeitam-no, mesmo quando o pretendem abraçar... desviam o olhar quando o que pretendiam seria partilhar o mágico calor da fogueira que se ousou acender... tudo porque aprenderam a conhecer a dor e a tratá-la de modo íntimo... tão íntimo e profundo como uma amiga!
A este tipo de pessoas está vedado o exultar da paixão, o delírio do desejo ou simplesmente o elixir fascinante do amor!

Matilde ergue-se do velho banco saindo numa qualquer paragem da Graça.
Percorre as ruas como um fantasma e de tão absorvida não repara nos vultos que a cercam... tal como não reparara mais do que um ínfimo segundo no sentimento que Duarte lhe despertara...

A vida é um mistério agridoce que nos traz demasiadas surpresas para os quais não estamos preparados... inclusivamente o AMOR!

domingo, novembro 28, 2004

10. Não chores (...) aconteceu." Gabriel Garcia Marquez



O dia amanheceu triste...
O céu carregado e o vento, indisciplinado, a atiçava-a de forma leviana. Ora lhe despenteava os caracóis dourados, ora lhe levantava a ponta do vestido ou, simplesmente, a empurrava de forma pouco confortável ao atravessar a movimentada rua.

Era Setembro... o Verão findava!

9:05 estava atrasada!!
Como sempre o levantar apressado!
A habitual correria para entrar no 44 quando, o amarelo autocarro, já se preparava para arrancar da paragem e, depois o atalho pelo Parque Eduardo VII para subir os incontáveis degraus até ao escritório... já muito depois da hora desejada!
E o pequeno almoço?! Voltara a esquecer-se de parar na pastelaria da esquina para comer alguma coisa.
O estômago dentro de duas horas estaria possesso a reclamar o malfadado esquecimento.
Que a esperaria naquele dia?!

Trabalhava naquele edifício há cerca de seis meses e estava contente com o trabalho que desenvolvia. Finalmente, após uma longa espera conseguia a almejada função... coordenar a formação de uma empresa de média dimensão mas que há muito marcava a sua posição na área das novas tecnologias.
Era tida como uma mulher bonita, algo solitária e distante, mas bastante ciosa das suas responsabilidades.
Respeitada e contidamente acarinhada por todos tinha consciência que gerava alguma curiosidade. Aparentemente ignorava-o.
No final da tarde sentia sobre si olhares curiosos à espreita como que à espera que algo tenebroso sucedesse mas... ao invés de lhes retribuir com agressividade o olhar, um ténue sorriso apareceu no seu rosto... Já nada daquilo a incomodava!
Saía do trabalho com a sensação de missão cumprida, ansiosa por meter a chave na porta e aterrar durante cinco minutos no conforto do seu sofá. Gostava da sensação que aquela casa lhe dava... de profunda calma. Aquele era o seu mundo privado... ainda que algo no seu intimo persitia em lhe recordar que em tempos tinha sido diferente...

A vida reservara-lhe uma grande surpresa!!

O lento passar do tempo encarregara-se de cicatrizar as feridas e de a ajudar a restabelecer-se da avalanche de sofrimento que tomara conta dos seus dias. Ainda acordava a meio da noite com a fronte repleta de gotinhas de suor e os olhos turvos alterados pelas lembranças que lhe assaltavam a mente durante o sono mas dentro de si renascia a esperança nos dias que despontarão...

O dia foi-se esvaindo num ápice e quase não teve tempo de se lembrar do pequeno almoço por tomar ou mesmo que engolira um iogurte a meio da tarde para enganar a tensão arterial. Estava a descuidar a sua saúde mas o trabalho, nos últimos tempos, havia sido tanto que a absorvia por completo.

19:55 Olhou ansiosa pela janela.
Num acto impensado, impulsionado talvez pelo isolamento em que vivera os últimos meses, combinara encontrar-se com Francisco no final do dia. Faltavam 5 minutos e da janela da sua sala via-o parado do outro lado da rua. O cigarro na mão, o olhar pousado numa criança que brincava no parque e o corpo encostado displicentemente no carro.
Era um homem que possuía uma beleza invulgar que em nada tinha a ver com os figurões das capas de revistas demasiado abonecados. Que idade teria? Nunca o soubera mas supunha que rondasse os trinta e dois.

20:10 Estava atrasada!! Sorriu. Atrasar-se estava a tornar-se um hábito.
Desceu as escadas apressadamente enquanto vestia o casaco e mesmo sem querer voltou a recordar o malfadado dia...
Não voltaria a suceder. Era o Francisco quem a aguardava.
Atravessou a rua ao mesmo tempo que no seu rosto se abria um tímido sorriso.

-Olá! ...estou atrasada!
-Estás...

Aquelas primeiras palavras murmuradas como se fossem uma confidência marcaram o início de uma nova fase na vida dela, em que não havia margem para perder os seus preciosos segundos a relembrar a interpelação fatídica:

-Você é que é a mulher do amante da minha esposa?!

Era passado e enquanto ia tecendo estas considerações olhava para o homem a seu lado.
Durante meses recebera os seus telefonemas com alguma reserva e quando respondia ás mensagens que se iam acumulando no seu telemóvel tinha sempre o cuidado de manter alguma distância. Nos últimos dias, porém, sem que se desse conta do porquê algo mudara e o resultado final era que ali estavam eles.
Disfarçadamente olhou para ele.
Gostava do seu tom de voz, da doçura com que a olhava e do diálogo inteligente com que a brindava.
O futuro era uma incógnita mas naquele instante sentia-se em paz consigo, com a vida e com as pessoas que a cercavam.
O vento da manhã como por arte de magia cessara e as folhas das árvores há muito que quase não balançavam. A calma reinava e a noite foi avançando marcado pela cumplicidade que nascera naturalmente entre eles. Descobriram gostos comuns, defenderam ideais divergentes e no fim afinal o bom humor imperava.

23:59 Entrou na casa, olhou para o sofá saudosa e sentiu-se como se fosse a gata borralheira. Chegara um minuto antes da meia-noite.
Entrou na cozinha, fez café e com a taça fumegante sentou-se por fim no companheiro de todas as noites. Estava feliz.
Como dissera Gabriel Garcia Marquez:

"Não chores porque terminou sorri porque aconteceu".

Afinal, nem tudo tinha sido mau. Antes de descobrir a traição fora feliz e hoje, amadurecera... Era o produto fiel de quanto vivera! Conhecera alguém e voltara a descobrir o prazer de rir a dois…

Os olhos começaram a fechar-se. Começava a adormecer mas não sem se questionar... como seria o dia seguinte?!
Um ténue sorriso persistiu no seu rosto mesmo quando o sono a envolvera há muito...

...a esperança renascera no seu intimo!!

sábado, novembro 27, 2004

9. "O Código Da Vinci" Dan Brown



Novembro...

...mês das castanhas, da água-pé, também da jeropiga e da prova do vinho.
A apanha da azeitona e as lides que lhe são inerentes ocupam o dia-a-dia dos pequenos povoados do interior enquanto geadas se abatem sobre os campos.
Indiferente a tudo isto, nas grandes cidades, o quotidiano decorre sem grandes artefactos... mais um dois concertos, meia dúzia de filmes e peças de teatro a estrear, algumas exposições abertas ao público e a habitual correria semanal, casa-trabalho... trabalho-casa....
Mas... em todos os recantos, as iluminações de Natal chegam e imperam relembrando ao Homem que um dia houve, não necessariamente a 25 de Dezembro, em que um ser muito especial nasceu. Um líder... que mesmo nos tempos que correm move multidões e os faz acreditarem com esperança no dia que despontará amanhã!
Recentemente tive a oportunidade de ler "O Código Da Vinci" de Dan Brown... um romance, na minha opinião, que aborda um ou outro ponto de referência válido e real!
Estupefacta, e após de horas de pesquisa constatei que, efectivamente, existe uma imagem feminina no quadro de Da Vinci, intitulado "A Última Ceia" e, com efeito Maria Madalena poderia descender da poderosa Casa de Benjamim não sendo, como tanto se apregoa, uma prostituta... Mas mais que isso, existiu realmente o Priorado de Sião havendo mesmo registos de que tenha sobrevivido até aos dias de hoje.
Mistérios que a história não nos permite revelar fidedignamente quando, como é relatado e bem por Dan Brown, "A Bíblia é um produto do Homem... (...) O Homem criou-a como um registo histórico de tempos tumultuosos, e tem evoluído ao longo de inúmeras traduções, adições e revisões."
Como saber o que é real... ou o que é fruto da imaginação humana?! Será certamente tão difícil responder a esta questão como a uma outra:

De onde vimos... para onde vamos?!

"...e Deus criou o Homem." ... assim o refere a Bíblia. No entanto quem ainda não ouviu falar da Teoria de Darwin acerca da evolução das espécies?
A eterna batalha entre o evolucionismo científico e a Bíblia persiste mas o certo é que, na verdade "O Código Da Vinci" é um belo exemplar de literatura que nos cativa, intriga e convence da existência de muitos mistérios que ciência e religião nunca, pelo menos até aos tempos que se antevêem, poderão explicar!

8. O mote dos Romances...



Olhares partilhados, carinhos trocados, confidencias reveladas, promessas mudas que não ficam por realizar... e, afinal, duas almas... dois corpos... o mesmo sentimento ardente, mágico e tão especial como tu... como nós... como todos Nós!

Sugestão do dia

"As palavras que nunca te direi" Nicholas Sparks

"Amor em tempos de cólera" Gabriel Garcia Marquez

sexta-feira, novembro 26, 2004

7. "Casa Pia O dia do Juízo"
in DN, 25-11-2004



A noite avança e o pequeno écran do computador capta a minha atenção enquanto recostada na cadeira aguardo a actualização do blog.
O dia foi longo e mal tive tempo de folhear o jornal comprado muitas horas antes. Já cansada de tanto tentar compreender a lógica da linguagem html decidi-me a folhear as suas páginas...

"Casa Pia O dia do Juízo"
...o anunciado julgamento, enfim, começou!! Um julgamento que nos parece chocante e apropriado quando o que estão em causa mais do a violação de menores são os Direitos da Criança, expectantes aguardamos o resultado que a justiça portuguesa determinará...

Os descréditos afirmam que os culpados acabaram por ser ilibados mas outros há que sendo fieis seguidores da verdade acreditam que esta será a grande vitoriosa e aqueles que se enviesaram por práticas criminosas serão finalmente punidos.

Eu... apenas sinto o peso da revolta a assolar-me quando incrédula constato que existem seres ditos humanos a incorrerem em tamanha barbaridade como a pedofilia...

Que prazer se pode retirar de maltratar crianças e sujeitá-las a actos sexuais cujo ritual apenas promove a satisfação de um desejo animal, unilateral, egoísta e hipócrita?!

Que servirá de mote a alguém para aliciar um indefeso a semelhante prática!?

As crianças necessitam de protecção, compreensão e mais do que isso amor, não que as violem e lhes roubem o que de melhor há nelas: a inocência!

Princípio 6º
"Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. (...)"

Princípio 9º
"A criança gozará protecção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração. (...)"

In DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA proclamada no dia 20 de novembro de 1959, por aprovação unânime, pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

O acto sexual deveria ser encarado como um acto de afecto... amor... partilhado... não como um momento fugaz de violência, ou mutilação de valores morais... é assim que o imagino e é desta forma que o sinto!

Tentei durante meses encontrar palavras para definir as emoções que brotam das minhas entranhas cada vez que me deparo com notícias sobre este cancro social e adoptaria certamente uma linguagem em tudo brutal... como o é a realidade vivenciada por todos os rostos sem nome das vitimas da pedofilia para definir tudo quanto me ocorre.
A pergunta repete-se... Como poderá alguém permitir-se a ideia de violar a essência pura de um pequeno ser indefeso... e pior que isso concretiza-la?!

Como podem seres ditos racionais aproveitar-se desta forma cruel da inocência?!

É bárbaro! Doentio e sinistro!

Continuo a acreditar que o melhor do mundo são as Crianças...

quarta-feira, novembro 24, 2004

6. "Não chores porque já terminou, sorri porque aconteceu" Gabriel Garcia Márquez

Vivem-se os últimos dias de Primavera... as esplanadas estão repletas de turistas e o calor acentua-se com o meio da tarde.
Um vulto sentado numa das inúmeras mesas de um bar decorado ao delicioso estilo irish... suspira!! O sino ao fundo, junto ao balcão recolhido no seu silêncio... balança suavemente... e é o sotaque inglês, aqui e ali... que quebra a monotonia!
O dia a findar... e de pernas cruzadas, numa atitude displicente, olhar perdido no nada... lá estás tu! Sorriso no rosto, a imperial a meio, um cigarro entre os dedos compridos de uma mão que há muito se esqueceu das emoções despertadas no simples acto de tocar... Agarras as palavras que vão surgindo na conversa banal que manténs, sacodes as verdades e recordas, entre dois minutos, como foi respirar... acariciar... amar... e afinal... tão somente viver!!
Quase sem teres noção do que sucede ergues-te da cadeira e caminhas rumo ao rio... olhas as águas outrora límpidas, agora, tão somente, calmas... e num movimento quase imperceptível da tua cabeça negas a imensidão do que te faz sentir... porque para ti já nada faz sentido... pois não?! Terás esquecido que o dia apenas chega ao fim?! Julgarás, tu, que amanhã o sol não surgirá resplandecente no horizonte!?

O movimento dos ponteiros do relógio é-te indiferente... agora que finalmente avalias o seu movimento passado...
A tarde esvai-se... chega a noite...
As mãos nos bolsos…o passo firme... como se há muito tivesses traçado o teu trajecto... e os olhos?! Os olhos vagos... focando um ponto impreciso para lá do horizonte... Pensas... recordas... analisas e nesse momento, pleno de agonia e insatisfação, a lua... companheira... amiga... amante mágica das noites solitárias abraça-te... incendeia-te e faz brotar do mais fundo da tua essência aquele sorriso... de quem já viveu... de quem já morreu mas ao invés de lamentar os momentos passados... apenas os relembra com a candura e a sabedoria dos que adquiriram o dom de transformar os ditos pesadelos no mais doce dos sonhos!!!
Ergues o rosto... alargas o sorriso... e num rompante dás-te conta que, afinal, a teu lado caminham milhões... milhões de vultos... outrora corpos... Dás-te conta!!! Sim!! Morreste... não há que derramar lágrimas, viveste!!

Os minutos passaram por ti...
Na manhã seguinte o leito branco foi invadido pelos doces raios de sol... e entre pensamentos tardios mas precisos de quem já suspirou pela última vez... finalmente é-te possível... prosseguir a tua viagem… interminável... e contemplar alegremente o que de novo se avizinha na tua nova existência!!

Morreste para renascer...

5. "As Palavras que nunca te direi" Nicholas Sparks

A noite mal dormida... o levantar apressado... a ansiedade a queimar o ar que se respira... o murmúrio surdo das vozes circundantes, actuam sobre o corpo e alma de forma pouco condescendente!!

Sinto-me prisioneira de uma sina que não moldei...

Percorro com o olhar a paisagem para além da janela insípida do comboio que vai deslizando pelos negros e frios carris...

Sinto-lhe a força viva... o encanto e a magia... e entre emoções... sentimentos ou meios pensamentos desperto do torpor que me assolou desde a madrugada... As dúvidas renascem das cinzas, as inseguranças do ar e a desconfiança é uma realidade demasiado dura e incompatível com a calma que é imperativo conquistar!!

Os raios de sol invadem a carruagem... motivando breves comentários... eu recolhida no meu assento impessoal... que afinal é de milhões... reconheço que neste momento a água tépida de uma praia do sul seria uma oferenda dos deuses!!

Por fim... a memória recupera a lucidez...

Amanhã, pela mesma hora, estarei numa praia do sul... despertarei com a caricia extenuante da brisa na minha pele e pensarei nas... "palavras que nunca te direi"... e do teu lado... e ainda que o meu vulto esteja lá... não haverá mais que ninguém porque eu morri quando pensava nascer...

Durante anos a fio dir-te-ia com alguma incerteza que os grandes amores nunca vencem... hoje digo-o com a certeza da derrota!!!

Olho os rostos das pessoas e em silêncio questiono-as... já amaste?!

Sinto um leve tremor nos meus lábios... dor contida... lágrimas por chorar... gritos calados... eis-me no silêncio das trevas... sem confiança, esperança ou segurança!!

Eis-me no auge da idade a desejar que a velhice chegue em breve... e que em breve possa cerrar os meus olhos sem sentir este desespero!!

"As palavras que nunca te direi"... mais que o título de um livro... mais que um segredo oculto... são palavras caladas... cravadas no mais fundo do meu intimo, revelando-se a cada momento como a expressão viva da essência que me faz erguer o rosto... desafiar o infinito e revelar... nas páginas impessoais de um jornal... que os grandes amores são como a brisa do mar... nas madrugadas onde a Lua não vigia a Terra e as estrelas se esquecem de acordar!!!

(in Diário de Aveiro, Domingo, 15 de Junho de 2003)

quarta-feira, novembro 17, 2004

4. Gosto... Não Gosto...

Gosto do mar, da areia e da água salgada. Não gosto de pimentos crus. Gosto do Sting, de Alphaville, de Whitesnake, de Anathema... dos Firehouse... Não gosto do frio, da chuva e do Inverno. Gosto de ler... crónicas, romances, reportagens… livros! Não gosto de não ter tempo. Gosto de fotografia a preto e branco. Não gosto de lojas muito cheias e desorganizadas. Gosto do Chiado, de Alfama e do Bairro Alto. Não gosto da 24 de Julho. Gosto dos Maias e do Eça. Não gosto de saltos altos. Gosto de Morcheeba. Não gosto de comida fria. Gosto de bolo de chocolate. Não gosto do Inverno. Gosto de Coltrane. Não gosto de répteis. Gosto de Scorpions, de Tom Waits e dos Pink Floyd. Não gosto de cães de luta. Gosto de passear. Não gosto de música pimba. Gosto de estar sozinha… mas não sempre. Não gosto de ruas barulhentas e desorganizadas. Gosto de gostar. Não gosto de vozes estridentes. Gosto do Galloping Hogan’s, do Peter’s, do Havaii, da República e do Património. Não gosto de ver crianças maltratadas. Gosto da sinceridade, da lealdade, do respeito e da cumplicidade. Não gosto de modas. Gosto de gatos, pinguins e cavalos. Não gosto de discussões, de mentiras ou infidelidades. Gosto de vestidos, biquinis, saias e corsários. Não gosto de guerras com sentido ou não. Gosto de caril de frango com frutas. Não gosto de roupa de Inverno. Gosto do campo, do rio e do pinhal. Não gosto de cidades grandes e impessoais. Gosto de escrever. Não gosto de insectos. Gosto da Marion Zimmer Bradley, do Camilo Castelo Branco, da Isabel Allende e do Nicholson Sparks. Não gosto de não gostar de política. Gosto de jardins, parques naturais e de qualquer pequeno espaço verde. Não gosto de Saramago (Que me desculpe quem aprecia.) Gosto de Aveiro. Não gosto de matraquilhos. Gosto de passear de bicicleta. Não gosto de Lisboa para envelhecer. Gosto de snocker. Não gosto do descuido a que se votam os monumentos nacionais. Gosto de sabores agridoces. Não gosto de bairros de barracas. Gosto de andar a pé à beira do rio, junto ao mar ou nas zonas históricas das cidades. Não gosto do racismo nu e cru e viva quem um dia criou a máxima: “Todos diferentes, Todos iguais.” Gosto de ruínas. Fascinam-me os enredos imaginados quando lhes toco. Não gosto de me sentir a estupidificar. Gosto de livros. Não gosto sapatos desconfortáveis. Gosto de mim e de ti. Não gosto de relações fortuitas e imprecisas. Gosto de rosas amarelas. Não gosto de trigonometria. Gosto de Kandinksy, Picasso, Dali… Não gosto de aranhas. Gosto de passeios nocturnos na praia. Não gosto do “Grito” de Miró. Gosto de lareiras e salamandras. Não gosto de centros comerciais. Gosto de calmamente ler o Diário de Notícias sentada numa esplanada. Não gosto de festas elitistas. Gosto de ficar horas a olhar o vai vém descompassado das ondas. Não gosto de gin. Gosto de andar de avião, de barco e de mota. Não gosto de ler jornais na Internet. Gosto de Itália, Grécia, Cabo Verde, do Egipto, da Madeira e dos Açores. Não gosto de alimentos de sabor amargo. Gosto de frutos exóticos. Não gosto de futebol. Gosto dos velhinhos livros de papel. Não gosto de vento. Gosto do Tejo. Não gosto de sapos. Gosto de Castelo Branco. Não gosto de banda desenhada. Gosto de anéis, pulseiras e afins. Não gosto do Salazar. Gosto da Maria Gambina e do Tenente, da Fátima Lopes e do João Rolo. Não gosto da Almirante Reis. Gosto da Fnac e da Bertrand. Não gosto de não gostar de algumas coisas mas... gosto muito de mim! E de todos os que ganharam um cantinho no meu coração!

domingo, novembro 14, 2004

3. "Os Meus Livros"

O dia já vai longo e a tarde finda enquanto a multidão avança de cá para lá e de lá para lado algum, num ritmo frenético.
A ansiedade domina o estado de espírito de cada um...
Daqui a uma hora começa o jogo... mais um dos inúmeros que o estádio multicolor já recebeu.
Como adepta convicta mas não "ferrenha" lá estou eu de cachecol ao pescoço e alma sorridente perante a esperança de um feliz desfecho para o clube da minha eleição.
Devo ser uma das únicas ou talvez a única mulher que se lembra de ir ao estádio sozinha... e ainda assim nada me demove muito menos a baixa temperatura que se sente ao despontar da noite!
Circulo pelos corredores espaçosos do centro comercial que ladeia o estádio quando uma das vitrines capta a minha atenção.
Finalmente, ai está ela... linda como nunca, a captar a atenção dos transeuntes para o colorido da sua face!
Entro na loja... procuro-a com os olhos. Desde Maio que a tinha pensado perdida... para sempre mas não... eis que, ali está!
Sorrio discretamente!
Linda... quase a imagino a acenar-me... a sorrir-me como a uma velha amiga e incapaz de lhe resistir, minutos depois saio da pequena loja abraçada a ela.
Procuro ansiosamente por um lugar vago nas inúmeras mesas da zona de restauração. Busca em vão!
Nada me demove!! Saio para a rua, encaminho-me para um banco e é então que no desconforto de um banco frio de cimento sob o gelo de uma noite ainda mais frio que lhe folheio as primeiras páginas descobrindo afinal o motivo do distanciamento a que nos últimos meses fomos submetidas!
Exulto, absorvida pelos caracteres impressos... e com a feliz sensação de um reencontro!

Agora que a encontrei... nada me fará voltar a perdê-la!

quarta-feira, outubro 27, 2004

2. "Corações em Silêncio" Nicholas Sparks



Um, dois, três...

Os passos não perdem a firmeza quando pequenas gotas de suor começam a deslizar-lhe pelo rosto e o olhar se perde no horizonte.
Uma leve brisa despenteia-lhe o cabelo sedoso enquanto procura voltar a controlar a respiração. Inspira o ar puro...
Há quanto tempo estaria a andar?! 30 minutos, uma hora, duas ou três?!
Saíra de casa mal retornara da praia... a casa sufocava-o! Sentia em cada recanto, em cada peça de decoração a tua presença e perguntava-se quando chegaria o dia em que assim não fosse!
Quanto tempo passara... um ano, dois ou três?!
A vida parecia-lhe um fardo demasiado pesado! Custava-lhe levantar-se pela manhã e ver o seu rosto precocemente envelhecido, percorrer a casa e, aqui e ali... relembrar... O silêncio impregnava cada centímetro cúbico da fustigante tensão que carrega no seu interior e de dentro das paredes parecia soltar-se o eco dos teus risos... a doçura do teu perfume... A dor era desesperante!
Mal entrava em casa pousava as chaves e, apressadamente, procurava no frigorifico quase vazio algo para comer. Trocava o fato formal e incómodo por umas calças de algodão... uma camisola de linho azul marinho... a tua cor preferida e fugia daquele que um dia fora um lar... As horas seguintes passava-as a andar junto ao rio.
Admirava a calma das suas águas e era-lhe possível alhear-se da sua vida... Aquele era o momento dele e da memória dos teus carinhos, das noites de paixão... do teu cheiro... e acima de tudo da memória de uma emoção mais forte que tudo: o amor que vos unia...
No inicio, era pior! Os dias transcorriam lentos... o seu olhar era triste e vago, sempre cabisbaixo, caminhava por entre as pessoas como se fosse o único ser que existia à superfície do planeta! Foi assim que, no fim de uma tarde... a dois dias de terminar a Primavera, esbarrou em alguém...
Sucedeu-se um pedido rápido de desculpas... uma troca de olhares... e o episódio ficaria por ali, não fosse um menino... Os olhos grandes como amêndoas... pousados em si com uma ternura tal que, quando lhe estendeu o pequeno brinquedo não hesitou em aceitar e dizer-lhe olá...
Pelos traços delicados reconheceu as feições da mulher que parada na sua frente sorria...
Quantos anos teria o menino?! Um, dois ou três? A idade do seu filho... a idade que teria se...
Dez breves minutos transcorreram de pura delicia para os três... que riam, divertidos com a brincadeira dinamizada pela criança. A despedida veio... mas não o esquecimento!
Aquele esbarrar elevou-lhe o olhar... Os encontros, aparentemente casuais, sucederam-se.
Convencia-se que quando agora passeava pelos mesmos passeios mantinha os mesmos motivos mas seria?! Fora feliz no passado... Ousaria arriscar de novo?!
A recordação do acidente estava demasiado presente na sua mente e sentia-se culpado quando era sobreposta pela imagem de Leonor... e Vasco... que reencontrava várias vezes nos passeios do final da tarde.
Perdera-te... e perdera o vosso filho num trágico acidente no Ip5...
Ainda que não saibas, tudo sucedeu porque o condutor de um pesado, após muitas horas de condução, adormecera... Uma fatalidade que custou a vida ás duas pessoas que o teu marido mais amava...
Hoje, mesmo depois de tanto tempo, quando olhava para o passado... sofria... e sentia as suas entranhas revirarem-se numa fúria contida contra o destino... seria capaz de se entregar novamente...!?
Leonor, percebia a sua hesitação... partilhava a sua dor... e compreendia-a como ninguém.
Há dois anos e meio, também, ela vira o seu marido sucumbir, no auge da idade, de uma paragem cardíaca. Excesso de trabalho... haviam justificado os médicos!
Cansado pela caminhada, parou junto dos inúmeros bares que ladeavam as margens do rio.
Sentou-se numa mesa e ficou ali... um, dois, três minutos... a contemplar o carinho com que dois idosos se olhavam... Dentro dele algo mudou...
Tu, o vosso filho... não foram um sonho... partilhara momentos únicos e nada nem ninguém os apagaria! Condenar-se à solidão e ao sofrimento, nu e cru, era algo que não fazia sentido! Queria chegar a velho... olhar para o lado e não estar sozinho...
O tempo passara por vós...
As horas esvaem-se e as estrelas já brilham no alto do céu! Finalmente, sente a vida retornar... Uma cadeira é arrastada e ocupada... perdura para todo o sempre a memória de todos os momentos partilhados... um tesouro precioso a brindar com um sorriso... um doce sorriso onde não há manchas de lágrimas e sofrimento... só assim poderá continuar a caminhar...

quarta-feira, setembro 08, 2004

1. Nasci...



...tal como o sol no ínicio de uma manhã ou a lua no fim de uma tarde... sereno embora apaixonado... atento ainda que tímido e eis que, aqui estou eu a dar os primeiros passos... e a dizer-vos olá!!