segunda-feira, novembro 29, 2004

11. Amor...



"(...)Quando se é feliz muito novo, a única obsessão que se tem é
aguentar a coisa. Vive-se ansiosamente com a desconfiança, quase
certeza da coisa piorar. O pior é que as pessoas que se habituaram
a serem felizes não sabem sofrer. Sofrem o triplo de quem já sofreu.
É injusto mas é assim.
No amor é igual. Vive-se à espera dele e, quando finalmente se alcança, vive-se com medo de perdê-lo. E depois de perdê-lo, já não há mais nada para esperar. Continuar é como morrer. As pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela."

Miguel Esteves Cardoso

Sentada no velho eléctrico, Matilde, olha para o pedaço de papel na sua mão...
As questões surgem-lhe em torrente... para quê comentar o que não tem comentários?! Para quê procurar outra certeza quando já se possui a verdade?!

A verdade é que existe outro tipo de pessoas que de tão habituadas a sofrer as vicissitudes da vida quando num rasgo do destino se deparam com um momento efémero de felicidade simplesmente convictas de que não será real, o rejeitam! Rejeitam-no, mesmo quando o pretendem abraçar... desviam o olhar quando o que pretendiam seria partilhar o mágico calor da fogueira que se ousou acender... tudo porque aprenderam a conhecer a dor e a tratá-la de modo íntimo... tão íntimo e profundo como uma amiga!
A este tipo de pessoas está vedado o exultar da paixão, o delírio do desejo ou simplesmente o elixir fascinante do amor!

Matilde ergue-se do velho banco saindo numa qualquer paragem da Graça.
Percorre as ruas como um fantasma e de tão absorvida não repara nos vultos que a cercam... tal como não reparara mais do que um ínfimo segundo no sentimento que Duarte lhe despertara...

A vida é um mistério agridoce que nos traz demasiadas surpresas para os quais não estamos preparados... inclusivamente o AMOR!

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