domingo, janeiro 30, 2005

39. "Bica Escaldada" Alice Vieira
(ou recordações de outros tempos.)


Escola Secundária Nuno Alvares,
antigo Liceu Nun'Alvares em Castelo Branco



- Bom dia. Então o que vai ser? O costume...? – pergunta o senhor António, do outro lado do balcão, com o mesmo sorriso aberto e espontâneo de sempre.

Sorrio como quem confirma o que é tido como certo.

O costume a que se refere é o dos tempos de adolescente. Um outro tempo em que corria pelos largos corredores do liceu para ali, me sentar não mais que meia hora e tomar, finalmente, o pequeno almoço já fora de horas.

O hábito perdurou e hoje, quinze anos depois, sempre que retorno a Castelo Branco aproveito para "matar" saudades do pequeno café. Um dos palcos preferidos das muitas tropelias de então. O mesmo onde, se sucediam os encontros com o primeiro namorado, onde se debatiam os projectos para o futuro ou, tão somente, se marcava presença enquanto não eram horas de mais uma aula.

Recordo-me dos colegas de escola, de um ou outro livro lido... dos professores... e com uma definição precisa, surge-me na mente a imagem do professor de Português. Uma figura emblemática e idolatrada até ao presente!

Era uma pessoa aparentemente vulgar. Palavras simples. Sorriso perspicaz. Olhar atento mas que nos cativava com um encanto mágico!

Cada aula assemelhava-se a uma surpreendente viagem ao País das Maravilhas onde a descoberta e o humor imperavam. Mais que isso, com ele capturávamos a noção exacta que aprender poderia ser divertido.

Na altura não haviam peças de teatro, como a "Breve História da Lua", a ensinar-nos que o aborrecimento não será condição inerente ao processo de aprendizagem. Tínhamos um professor, simples e humilde, carismático e detentor de um dom sem igual! Isso bastava-nos para amar, incondicionalmente, as pequenitas letrinhas. Uma paixão que perdurou. Se hoje escrevo, como quem fuma um cigarro, ou leio como quem se detém horas a fio em frente de um televisor... a ele se deve!

Mário Feliciano, um nome anónimo para muitos, para outros... que no velho liceu desfrutaram daqueles que eram verdadeiros momentos de apreensão de conhecimento, será como um ídolo que recordamos e amamos!

Um alguém a quem os dias, há muito, roubaram o último fôlego mas que não conseguiram apagar da memória, a mágica lembrança do que é realmente ensinar e aprender!


(...e quem não se recordará deste ou daquele professor que nos marcou a adolescência de forma positiva?!)

sábado, janeiro 29, 2005

38. Consciente e Solidário!




A propósito de tudo e de nada
Deambulo por aqui e por ali.
Os olhos postos para lá do horizonte,
Os passos ritmados e serenos,
O coração convicto da sua condição apaixonada,

O dia que desponta,
A noite que se esconde,
A memória de emoções tonta,
Ou, simplesmente a vida em que alegria abonde...
Tudo lhe serve de mote!
Mesmo a tristeza dos que choram a morte,
A inércia dos que se mantêm indiferentes,
Ou a hipocrisia dos que se remetem à cegueira mental...
Lá estão, a marcar o compasso!

O vicio está nas palavras... no pensamento
E, afinal, no enfrentar da realidade!
Talvez seja, somente, o constatar atento...
Do que é assumir-se consciente e solidário!

Há seres a tremer de frio ao relento.
a quem a fome consome...
que erguem os olhos num ténue movimento
e, unicamente, encontram o voltar de um rosto...
um ignorar cortante...
uma retribuição ausente...
e a necessidade sempre presente!

Há agasalhos esquecidos sem destino definido...
meia dúzia de moedas sem fim aparente...
sentimentos e valores a recuperar...

Por onde começar?!
Basta que se permita olhar...

A mão, gasta e suja,
Carente e ansiosa... está mesmo ali...



Outros poemas:


Sina desgraçada...

"A Noite do Oráculo" Paul Auster

"O coração tem razões que a razão desconhece." Pascal

"The life and loves of a she devil" Fay Weldon

quinta-feira, janeiro 27, 2005

37. Ilusões reais ou reais ilusões?!




Porque se hão-de desprender os sonhos da realidade, se a vida que se lhe afigura é um enredo de ilusões distintas e mágicas?! Nelas acredita com a certeza convicta de que são materializadas no quotidiano dos seus dias e, ainda que o contar das últimas horas tenha sido o mais vil dos tormentos, sabe que nada daquilo existiu a não ser para si...

A confusão dos seus pensamentos assalta-o, na esquina escura da avenida, mas nada o impede de continuar a divagar que a vida é um agridoce sonho, não um simples logro do destino... ou o pesadelo desmedido de contas a pagar, discussões a ter ou de stress a envolvê-lo. A vida... a sua vida é, afinal, o produto fiel da sua capacidade de crer ou querer! Deste modo, acredita que o despontar do novo dia lhe trará a clareza de pensamento e o discernimento, preciso e objectivo, para acreditar que será feliz mais do que possa ser naquele instante.

Ana ou pelo menos o seu espírito estará viva e feliz algures num mundo que não será necessariamente o seu... As lágrimas que lhe brotaram segundos antes, quando terá entrado na sala vazia do hospital e murmurou num triste lamento a sua despedida... não foram mais do que, a sua imaginação a erguer-se do mais profundo da sua alma, a recordação de uma história lida algures num outro existir. O velório que vislumbrou seria, tão somente, uma ténue fracção de um momento de promessas e confissões imediatamente antes do reencontro...

Sim! Dali a momentos voltaria a ouvir os seus risos, a sentir o toque cálido da sua pele e a sentir a doçura da sua respiração! Mesmo que fosse necessário saltar de mundo em mundo até finalmente reencontrar o aconchego dos seus braços e a profundidade do seu sentir!

A caminhada terminara. A porta de casa fora aberta e cerrada calmamente. O bater do seu coração acelerava-se. Como sempre que a tinha diante de si...

- olá, amor!

Ficara por desvendar o desfecho do enredo de uma história vivida num outro mundo... mas tão real como o beijo que agora Duarte depositava nos lábios quentes de Ana! Pelo menos assim o opinaria ele! O mais comum e infeliz dos mortais talvez apenas entrevisse o vazio das paredes que o aguardava por detrás da porta maciça...


Nada é ilusão... ou sonho... ou impossível se estivermos convictos da nossa capacidade de acreditar... mais que nas coisas ou nos outros seres... mas em nós próprios e na dimensão do nosso AMOR!

(o que apelidamos de fruto da demência pode ser apenas o reflexo exacto de uma realidade que não vemos porque nela não acreditamos...)

terça-feira, janeiro 25, 2005

36. Um caloroso... até já!




Sentada na desconfortável cadeira da secretária, onde durante horas me debruço sobre o teclado escuro, sinto os raios solares afagarem-me as costas. A sensação agrada-me e por momentos contemplo um ponto indefinido do écran. O pensamento foge da sala impessoal e sinto saudades da praia... do pequenino café e da esplanada onde durante tantas horas te tive por companhia.
Fecho os olhos. Inspiro o ar abafado. Sinto a misturas de odores inalados incomodar-me as narinas enquanto me imagino a uma dúzia de quilómetros... a respirar numa outra atmosfera onde impera o cheiro a mar.

Olho-te embevecida e quase te acaricio o rosto, numa muda confissão desta paixão que domina o meu ser e me faz, noite após noite, roubar horas ao sono.

Incrível como escolhes os momentos mais inoportunos para me assaltar com memórias, devaneios ou simples desejos, irremediavelmente, irresistíveis e assolapados.

Uma voz irritante e desprovida de qualquer beleza arranca-me deste doce torpor. Relata-me... mais um... insípido episódio ocorrido algures no mapa português. Ao passo que a ti te bebo as palavras, completamente embevecida, ao ser que tenho o desprazer de escutar apenas reajo com enfado e uma simpatia forçada.
Porque teria que contactar neste preciso instante em que saboreava através da fluidez da mente, mais que a frieza das tuas páginas de papel, a recordação quente e sedutora dos encantos que me trazes...

Sim! És um livro! Para muitos, apenas um livro! Não o serás, certamente, para mim! Quantos anos se passaram desde que descobri a tua existência?! Quantos se passaram, ainda, até que a vida ou a morte me façam esquecer de ti?! És o eterno companheiro, que me apaixona e faz vibrar, por isso sou incapaz de te dizer adeus ou até sempre... permaneço de ideias fixas no mais caloroso, até já!
E é assim, que retomo o trabalho. Afasto-me de ti, por um par de horas. É certo!
Concentro-me naquela voz horripilante que não hesita em descarregar sobre mim a frustração que consome a sua essência. Durante largos minutos, fico atada a ela. Questiono-me sobre a utilidade daquele diálogo surrealista que deveria ser, tão somente, o esclarecer de meia dúzia de fúteis informações... Sinto saudades do teu equilíbrio! Do teu cheiro... e de te tocar!
Segue-se outra voz... desta vez mais cativante e melódica!
A tarde avança! Fica a promessa silenciosa de te compensar mais tarde...
Até já!

segunda-feira, janeiro 24, 2005

35. Vaga de frio

O nevoeiro e o frio prostram-se sob as ruas. O dia principia o rumo habitual num intenso rodopio. A azáfama dos comboios lotados e do metro apinhado assalta-nos enquanto ainda esfregamos os olhos a arder em sono.

Os minutos vão se contando...

O trabalho revela-se, insípido e infindável, ao passo que o almoço, engolido à pressa, assemelha-se a um momento fugaz que o estômago esquece passado duas ou três horas!

Assim decorre mais um dia...

Chega a noite e, entre um e outro rabiscar de apontamentos num pequeno bloco, folheia-se o jornal diário que ficou por ler... até agora!

Uma notícia publicada acabou por me surpreender... "Vaga de frio "abre" portas do Metro aos sem-abrigo", DN, 24-01-2004 e, quase involuntariamente, sorrio ante o cariz humanitário que a iniciativa denota! Afinal, ainda que o frio se abata sobre o país não conseguiu congelar o coração humano.

A opção do Metropolitano de Lisboa (ML) para manter algumas das estações alfacinhas abertas a tempo inteiro e albergar os sem-abrigo se a vaga de frio assim o justificar é, sem dúvida, um acto a louvar.

É muito fácil idealizar-se um mundo melhor, onde fosse possível a todos ter um tecto sólido a abriga-los. Infelizmente, essa não é a realidade actual e, há que pensar naqueles que diariamente dormem ao relento depois de uma ceia que ficou por ingerir.

Com a anunciada vaga de frio eles serão certamente as vítimas mais atingidas! Mas o perigo não os espreita só a eles. Idosos e crianças também estão vulneráveis.

Alertas ocorrem e é imperativo que sejam tidos em consideração.

Braseiras convencionais e lareiras são perigosas! Quem não sabe isso?! E ainda assim, quantos casos existem de pessoas que já sofreram queimaduras provenientes de quedas e descuidos com estes geradores de calor?!

Os aquecedores, aparentemente mais seguros, também incorrem neste alerta pois um esquecimento poderá provocar desde incêndios a intoxicações. O aquecimento que se promova em espaços sem renovação de ar poderá levar à saturação de um gás prejudicial à saúde e por vezes letal, o monóxido de carbono.

O Instituto de Meteorologia e Geofísica (IPG) solicita especial atenção aos dias 26 e 27 em que se prevê o registo de temperaturas mais baixas. Impõe-se, portanto, a necessidade de vestir roupa quente suplementar, o mais confortável possível e que permita ao corpo respirar normalmente.

Em casa, portas e janelas deverão ser vedadas por forma a que a temperatura ambiente se possa manter nos ideais 20ºC e 21ºC.

Os avisos não ficam por aqui!

Aconselha-se a ingestão de alimentos quentes e exercício físico moderado. O coração, o motor central da máquina que é o nosso corpo, assim o exige! Neste caso, os mais vulneráveis serão os doentes crónico na medidas em que são mais susceptíveis de sofrer ataques cardíacos.

Ainda que, uma elevada percentagem da população o desconheça existe uma linha telefónica de saúde pública que em caso de necessidade se poderá contactar - 808 211 811. Fica a indicação que espero, sinceramente, que se revele informação inútil!
Assim... e atendendo à hora tardia que me impedirá de beneficiar das horas de sono tão desejadas, só resta desejar uma boa semana a todos os que vieram dar a este cantinho... perdido algures entre o mundo virtual e o real.

Um beijinho e boa semana!

quarta-feira, janeiro 19, 2005

34. Ou talvez três...




Setembro...

Ao longe, avista-se o campanário da basílica, altivo e vigilante, como que à espera que o Outono chegue e abrace a cidade.

O final da tarde vai chegando e traz consigo o rodopio humano daqueles que apressados saíram há escassos minutos do trabalho e rumam a parte incerta...

Duas ou três pessoas param para admirar extasiadas a beleza que reveste o parque nesta altura do ano. Um espectáculo multicolor, incrivelmente belo. As copas das árvores balançam, suavemente, como se o murmúrio do vento fosse uma doce balada e, aqui e ali, o chilrear de meia dúzia de pássaros alegram a alma de quem por lá circunda.

Num dos edifícios que ladeiam o jardim, o vidro transparente da janela protege o pequenino corpo do frio que começa a amarelecer as folhas mais frágeis da vegetação. A febre é alta e o choro uma constante. Ao lado do berço, uma figura feminina observa o pequenito com uma expressão enternecedora... enquanto a mão bronzeada afaga o rosto da criança.

Aquele pequeno ser parecia-lhe tão indefeso. No entanto, com apenas meses travava uma dura luta pela sobrevivência. Perguntava-se, enquanto lhe via os olhos abrir e fechar-se turvos pela temperatura altíssima que o consumia, se conseguiria sobreviver?! Não queria pensar no pior... mas o médico não parecera muito animador quando há minutos lhe dissera que faziam os possíveis e os impossíveis para que recuperasse.

Onde estaria a mãe daquela criança?! E o pai?! A revolta ressurgiu dentro de si.

Há duas semanas quando se preparava para sair para o trabalho encontrou um pequeno cesto de verga junto à sua porta. A princípio e notando um diminuto vulto, embrulhado num trapo que já vira dias melhores, pensara tratar-se de uma surpresa dos seus alunos. Um pequeno cachorro, talvez! Ao desviar o tecido a surpresa tomou conta de si:... um bebé com cerca de três meses!

O choque abalou-a de tal forma que quase desfaleceu. Sentou-se nas escadas e ali permaneceu até que o choro do pequenito a libertou do transe. Que poderia fazer?!

Telefonou para a escola decidindo que não poderia trabalhar naquele dia. Informou-se, junto da assistente social do seu agrupamento de escolas, sobre o que poderia fazer. Assim que teve a orientação necessária, para começar aquela que seria uma árdua luta pela defesa da criança, encaminhou-se para a clinica à qual recorria quando necessitava de serviços médicos.

A criança parecia estar desnutrida, como se há semanas não fosse alimentada convenientemente. Ao chegar deparou-se com as habituais dificuldades burocráticas mas como a conheciam acabou por conseguir que fosse consultada Uma vez lavada e vestida com roupinhas adequadas, o rosto antes enregelado apresentava-se agora rosado e sorridente.

Um turbilhão de ideias assaltaram-na fazendo com que desejos ocultos espreitassem a luz do dia. Valeu-lhe o auxilio da assistente social para ficar com a criança até que aparecessem os pais. A afeição ia crescendo e, na verdade, o que mais ambicionava era poder adoptar o bebé. Protegê-lo, educa-lo e dar-lhe todo o seu amor!
Magoava-a verificar que alguém negligenciara de forma criminosa aquele inocente. A coragem hipócrita de tal acto abatia-se sobre si e revoltava-a.

Com 20 anos fora confrontada com o facto de que só mediante uma penosa intervenção cirúrgica poderia gerar filhos. Depois de 11 anos continuava inconformada com essa fatídica realidade.

O abandono de crianças inocentes era para si intolerável.

Olhou para as paredes brancas do quarto. Sentia-se impotente.

Há dois dias atrás, sem qualquer aviso, a febre começara. O corpo debilitado de Vasco, assim chamava o bebé, não resistira à voracidade de um vírus. Apenas um ténue fio de esperança parecia prendê-lo à vida.

No corredor duas enfermeiras espreitavam compadecidas para o quarto. O amor e a atenção que aquela mulher consagrava à criança eram perturbadores. Poucas pessoas se dedicariam, de corpo e alma, a um ente com quem não tinha qualquer laço familiar.
O médico conjuntamente com a assistente social tentavam, desesperadamente, localizar os pais da criança para averiguar dados clínicos que os auxiliassem no tratamento mas poucas novidades tinham. Supunha-se que deveriam residir na vizinhança e conheceriam, pelo menos, superficialmente a professora.

Marta sentiu-se observada e olhou para a porta, João, o responsável clínico, aproximou-se com um sorriso reconfortante.

- Recebi agora um telefonema. Conseguimos localizou um familiar do menino… a avó.
- Avó?! E os pais?! – a surpresa tomou conta de si.
- Marta, a história é um pouco mais triste do que pensamos... Os pais dele morreram num acidente há um mês e era a avó que cuidava dele. O dinheiro de uma reformada escasseia. A decisão de o deixar à sua porta foi, para ela, inevitável.
- Mas... como?! Eu conheço-a?! Como sabia que o trataria bem?! – o seu olhar confuso revelava a dor que a possibilidade de perder Vasco lhe suscitava.

O jovem suspirou. Surpreendia-o que nos dias que correm alguém tivesse valores tão nobres como aquela mulher. Vasco era um bebé com muita sorte. Ninguém hesitaria em depor a favor da adopção dele pela menina Marta, como era gentilmente tratada pela equipa de enfermagem.

- Suponho que sim pois moram bastante perto. Provavelmente, saberia que era professora e da sua afeição pelos alunos.
- ...não quero perder o Vasco. – murmurou enquanto os olhos repletos de lágrimas se depositavam sobre o rostito oval.

No seu cérebro registava-se a custo a informação. Os pais morreram. Uma avó com pouco dinheiro obrigada a abandonar a criança á porta de um desconhecido. Ela, uma professora com meia dúzia de anos a leccionar adolescentes, uma boa situação financeira e uma enorme afeição por crianças. Contava com a ajuda da assistente social e do médico. Não pretendia afastar o menino da avó mas não podia negar que o amava como se fosse fruto do seu ventre. Seria possível conseguir, legalmente, a sua custódia?! No dia seguinte falaria com a mana, como carinhosamente chamava a irmã. Era advogada e saberia melhor do que ninguém como proceder para dar início ao pedido de adopção legal. Levaria muito tempo. Envolveria, provavelmente, o Tribunal de Menores e um não sei quantas entidades, Lutaria! E Vasco haveria de resistir como um bom menino!

Julho...

O tempo passara. Há muito que as frondosas árvores se tinham revestido de novas folhas. Os pássaros, em maior número que no passado mês de Setembro, persistiam no seu chilrear e os pequenos olhos outrora febris erguiam-se para ela brilhantes reflectindo toda a alegria sentida.
Voltara inúmeras vezes à clinica para que Vasco fosse consultado. Pura rotina. Certo é que, em nenhum desses dias estava tão feliz como naquele momento!
A vida parecera-lhe tão injusta quando, acabada de sair da adolescência, soubera que nunca seria mãe. O destino encarregara-se de a compensar. Minutos antes de sair de casa recebera um telefonema com a boa nova... Finalmente, era a mãe legal do pequeno Vasco.
Os corredores apertados do edifício já não lhe pareciam tão impessoais Ali encontrara mais que doces olhares e reconfortantes sorrisos, pessoas sensíveis e amigas que a tinham apoiado incondicionalmente nos últimos meses. Era com um prazer enorme que lhes comunicaria a noticia!

Abraçada ao seu filho, caminhou pelo corredor em direcção ao pequeno gabinete. João seria o primeiro a saber. Tinha sido um amigo incansável.
Bateu levemente na porta branca...

- Entre!! – Aquela voz reconfortava-a. Era forte e ao mesmo tempo suave, doce, envolvente. Perguntava-se quando se teria apaixonado. Talvez tivesse sido naquele primeiro dia em que com as lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto entrou com o menino nos braços a arder em febre. Aquele homem tinha sido incansável.
- Sou eu... - O sorriso desvaneceu-se ante a visão de uma elegante mulher que junto a João o olhava embevecida. A mão feminina pousada sob o seu ombro não passou despercebida a Marta. Procurou recompor-se e disfarçar o desapontamento que aquela visão provocara.
- Olá! Desculpe... Como tinha consulta com a Dr.ª Noélia resolvi passar por aqui para lhe contar que finalmente já consegui a adopção.

O coração de João acelerou-se. O desconforto de Marta atingira-o. A vida era madrasta. Desde que a vira que a sua presença o perturbava. Ocasiões houvera em que pensara estar a apaixonar-se perdidamente... mas como se poderia aproximar?! A ética profissional impedia-o. E Marisa. Uma bela mulher, algo fútil mas incrivelmente sedutora. Saiam juntos há dez meses e recentemente a sob pressão de ambas as famílias anunciaram o noivado. Um desfecho que não queria. Uma noiva que não desejava.

- Fico feliz, Marta! Vocês mereciam isso! Desejo-lhes as maiores felicidades.

Num murmúrio de voz, Marta, despediu-se e dirigiu-se à consulta.
Pelo menos tinha o seu filho. Nostálgica, olhou para o rosto da criança. Tinha os olhos grandes, de um castanho esverdeado que ia alternando de cor conforme o estado de espírito. O cabelo sedoso castanho claro revelava, aqui e ali, um tímido caracol mas era o sorriso meigo que mais encantava as pessoas na rua. Irradiava alegria.

Uma hora depois João aproximou-se da janela de onde avistava o passeio que circundava o parque. Surpreendeu-se quando, debaixo da copa frondosa de uma árvore, avistou Marta e Vasco que alimentavam os pássaros com miolo de pão. Sentiu que, por momentos, sustera a respiração. Gostava muito deles.

Há pouco... num rompante tomara uma decisão e falara com Marisa. Aquele compromisso não fazia sentido quando havia uma completa e chocante ausência de amor. O tempo passaria...e tinha esperança! O futuro havia de se encarregar de prosseguir o enredo da sua vida e convertê-lo numa história, predominantemente, de amor, sinceridade e lealdade.

Voltou a olhar para o parque… mas não avistou viva alma. Estava deserto!

Agosto... Setembro... Outubro... Novembro... Dezembro...

As ruas estavam repletas de transeuntes que corriam, de loja em loja, para comprar uma última prenda que fora esquecida. Marta com Vasco ao colo vai conversando com o filho alheia a que do outro lado da rua alguém pára e a observa... baixa os olhos... e segue o seu trajecto derrotado pelo medo de perder a ilusão…

Estava linda. Vasco também. Tinha saudades. Muitas.

Meia dúzia de passadas e arrependeu-se da sua cobardia. Devia tê-los abordado. Que mal haveria em saber como estavam?! Voltou atrás e percorreu a Rua Augusta até ao cimo… espreitou cada loja até que se deu por vencido. Na vida havia um momento certo para tudo...


Marta entrou em casa exausta. O menino crescera e as costas reclamavam o esforço que as caminhadas com ele ao colo, representavam.

Faltava uma semana para o Natal e sentia-se satisfeita. Os presentes estavam debaixo da árvore, o frigorifico abastecido e a lenha no cesto ao lado da lareira. Seria um Natal bastante íntimo na companhia dos pais, da irmã e dos avós maternos. Amava aquelas pessoas e reconfortava-a saber que mesmo não sendo a mãe biológica de Vasco, dedicavam ao seu filho o mesmo tipo de amor que lhe dedicavam a ela.

Ás vezes sentia a falta de uma companhia masculina, quase sempre tal sentimento lhe sugeria a imagem de João mas a vida era assim... não se podia ter tudo! Ou pelo menos assim se dizia.

Também convidara a avó do seu filho para passar a Consoada com eles e perguntava-se se compareceria.. se o fizesse a sua felicidade seria quase plena.

Os pensamentos de Marta dispersaram-se... enquanto reflectia sobre o mais profundo da sua essência e sobre a pequena parcela que faltava para que os risos fossem realmente cristalinos.
Não possuíra a necessária coragem para lutar pelo amor que a consumia... ou seria que, aquela emoção... aquele sentir que a elevava aos céus era, basicamente, uma ilusão e nada que fosse comparável ao verdadeiro sentimento?!

Em tempos, Marta tivera esperança. Hoje conformara-se. João estaria, certamente, casado com Marisa e o desabrochar da mágica centelha que julgara entrever seria, tão somente, uma fantasia.

Se pudesse apelaria a todos os seres humanos que não prescindissem do amor! Lutar pela felicidade era imperativo! Sonhar também...

Reflectindo sobre tudo isto, ergueu-se do sofá, não sem antes acariciar o rosto sorridente do filho. Ligou o gravador de mensagens. Dois ou três telefonemas da mãe, um da irmã e... o seu coração bateu mais forte ao ouvir aquela voz...

- Olá,. Marta! É o João... Hoje de tarde, penso que te terei visto na Baixa e... bom... enfim… tenho saudades! Gostava de saber noticias vossas... Também telefonei para vos desejar um Feliz Natal. A propósito... pergunto-me se ficarás em Lisboa?! Bom... espero que em breve possa ter noticias vossas. Beijinhos.

Que significava aquele telefonema?! Quantos meses passaram desde a última vez que o vira?! Recordou os meses que antecederam o último encontro, os inúmeros diálogos na cantina da clínica e os passeios pelo parque... os sorrisos, os olhares e as conversas! Talvez no dia seguinte lhe telefonasse… ou, simplesmente, desse um dos passeios que outrora eram partilhados pelos três… desta vez seria a dois...

Ou talvez a três...

quinta-feira, janeiro 13, 2005

33. Um dia... jornalístico!




Promessas cabalísticas ou invocações pragmáticas da realidade,
Tragédias nefastas ou ferocidade da natureza,
Implacável mão de Deus prostrada sobre cada centímetro de solo?!
Notícias do mundo tratadas com imerecida leveza!
Políticos, lideres, desportistas, escritores, figuras anónimas
Da vida... do sonho... ou somente do pesadelo!
Todos juntos, todos isolados na mesma mentira...
Lutando pelos cinco minutos de fama efémera!
Teias, enredos, tramas do mesmo novelo...
Que nos deveriam fazer mais que pensar,
Sentir e agir... ainda assim apenas lhes dedicamos a indiferença...
De um pesar distante e quase hipócrita!
É assim, esta Terra perdida no meio do nada do Universo!
Há talvez mais do que uma voz que grita,
Mais do que um fatal verso
Deste poema que é a vida...
Mas que sabemos nos daquele que outras paragens habita?!
Um... dois... três segundos do seu horror?!
Quatro... cinco... seis imagens desfocadas do seu rosto?!
Sete... oito... nove palavras que na sua dor recita?!
Na verdade e em tudo NADA!
E assim, passa mais um dia... jornalístico!

quarta-feira, janeiro 12, 2005

32. Leituras...



O terceiro dia, em casa, avança e num momento de puro tédio volto a folhear pela milésima vez o jornal, a revista e um velho livro. Entre dois ou três espirros, não consigo decidir-me por este ou aquele tema e é inevitável não desejar que a reclusão domiciliária seja logo levantada.

Certo é que, o Sol, do outro lado da vidraça, continua a brindar-nos com os seus magníficos raios. Relembra-nos uma outra estação em que pegamos num livro e procuramos uma esplanada para durante horas deixarmos a imaginação fluir.

O astro rei traz-nos afinal a ilusão... não mais que isso!! Basta olhar para as temperaturas marcadas pelos termómetros para não apetecer transpor a porta da rua.

Fecho os olhos e tento lembrar-me de dois títulos de livros a ler...

“Onde Melhor Canta Um Pássaro” Alejandro Jodorowsky

“Danças & Contradanças” Joanne Harris

...a ler, depois de vencido o esforço de chegar ao fim de “Bica Escaldada” de Alice Vieira!

Comprei este livro, impulsivamente, como tantos outros na vã expectativa de corresponder ao que imaginava. Reconheço as crónicas bem delineadas mas sem a magia necessária para me prender às suas páginas. Isso aborrece-me.

Como sou teimosa... sei que vou concluir a leitura frustrada e desgostosa. Talvez até volte a relê-lo numa persistente tentativa de conseguir antever uma pequenina faísca cintilante e especial. Provavelmente não a verei... nem a sentirei mas fica a tentativa e uma opinião contraditória àquela que é dada a conhecer pela menina dos meus olhos, “Os Meus Livros”.

Vivemos numa suposta democracia... e como opinar e discordar ainda não paga imposto, “cá me fico” com a minha ideiazita que os grandes escritores também se acomodam e têm momentos menos banhados pela sensibilidade da inspiração!

terça-feira, janeiro 11, 2005

31. Sentimentos errantes...



Não é um carrossel, nem um baloiço, nem um carrinho da feira. É um velho autocarro da carris que percorre as ruas labirínticas, aparentemente prestes a desintegrar-se. Os seus arrítmicos solavancos vão sacudindo o corpo frágil de Marta.

O trajecto é curto mas longo o suficiente para permitir que o pensamento vá, também, estremecendo e sublinhando, nos meandros mais profundos do ser, os episódios que nenhuma esponja poderá apagar ou esbater..

A nostalgia invade cada poro da pele no mesmo instante em que na alma apenas se dilui, com o leve dispersar, a música de uma vida absorvida pela inabalável força dos guerreiros. Mais que os mil personagens dos romances que lê, Marta revê-se a ela, nas páginas daquele que, prostrado sob o colo, tem sido o companheiro dos últimos dias. A mesma intensidade de sentimentos... a mesma fluidez de acontecimentos a beirar-lhe a rotina insípida e, mais que isso, a mesma capacidade para no temer... sonhar!

Ultimamente, o seu quotidiano divide-se entre o desgastante trabalho numa escola pública e as lides, ainda mais entediantes, da casa recém adquirida. Casualmente, uma fuga até à praia, um mirar compenetrado do écran do cinema ou um exultante bater de palmas àquela peça de teatro, tão badalada.

Em quarenta anos, o tempo não conseguira desvanecer-lhe o penetrante olhar nem vincar o rosto de traços definidos com o franzido natural da pele... Era, afinal, uma imagem viva daqueles seres que nos sugerem que a beleza não tem, realmente, idade.

É bonita! Sabe que o é… ainda que de tal não se aproveite para sobressair! Isso torna-a ainda mais bela e distinta! Assim pensa Duarte. Apercebera-se disso há muito e, desde então, não perde uma única oportunidade para a observar embevecido como que hipnotizado por tamanha sensualidade feminina.

A primeira vez que a trama dos seus passos se cruzara com a dela tinha 14 anos. Ela 25! Ele era o aluno. Ela a professora de geografia e nunca a actividade vulcânica lhe fizera tanto sentido.

Fora, afinal, uma paixão assolapada como todas o são, na adolescência. Daquelas que deixam marcas imutáveis vida fora e fomentam em cada reencontro um estado de espírito nada próximo da indiferença.

Revê-la devolvia-lhe imperativamente a mesma sensação. O estômago a contrair-se, o coração a acelerar e o brilho dos olhos a acentuar-se de tal forma que ofuscaria o sol! Só dos seus lábios não saia nenhuma palavra, exuberante, que o denunciasse!

Apesar de 15 anos decorridos, continuava a sentir-se como o aprendiz... ela a mestra...

Nos últimos anos, discretamente, seguira as suas passadas com fidelidade e secretismo. Para além de meia dúzia de inocentes palavras, trocadas a cada casual encontro, apenas se atrevera a enviar-lhe, anonimamente, um ramo de rosas nos seus aniversários.

Divertia-o imaginar como reagiria se descobrisse quem era o autor de semelhante empreendimento mas, mais que isso, deliciava-se quando nos momentos mais isolados do mundo, enquanto saboreava um ou outro café a fumegar, deixava o pensamento livre para tecer os enredos que a imaginação lhe ditasse... Como seria o sabor do seu beijo, o calor do seu abraço ou o cheiro da sua pele?

Sentado a alguns metros da musa dos seus sonhos, tão perto e tão longe, o sangue corria mais rápido nas veias. A excitação consumia-lhe a alma e num impulso desmedido, vencendo a barreira invisível que os separa, abordou-a:

- Olá professora! Então, como vai?

O sorriso tantas vezes apreciado e manifestamente desejado surgiu:

- Bem! E o menino?!

- O menino está bem como sempre!

- Não me tinha apercebido que vinha no autocarro...

- Também só reparei agora que estava aqui... há muito que não a via.

- Este ano as aulas são de manhã. Hoje é que fiquei até mais tarde... – desabafou Marta.

- E que tal são os meninos...?

- Acredita que me fazem ter saudades das suas lagartixas com laços cor de rosa...

Um tom escarlate cobriu inesperadamente a face de Afonso.

- As coisas que se fazem para atrair a atenção de uma professora bonita!

- Diga antes, as coisas que se fazem quando não se pensa...

A reprimenda camuflada pelo tom divertido relembrou Duarte que havia nela muitas outras características que o tempo não desvanecera... como o senso de humor.

A conversa decorreu durante momentos enumerando velhos tempos em que as suas vidas se cruzaram e nenhum dos dois se apercebera de que para Marta o percurso estava prestes a terminar. Quando isso sucedeu Duarte murmurou, impulsivamente, a tão desejada sugestão:

- Olhe... um dia destes telefono para...

Marta sorrira vagamente. Sentia-se culpada pela traição do coração que batia demasiado descompassado e da sua imaginação que, insistentemente, lhe sugeria demasiadas imagens...

...mas os dias sucederam-se sem que o encontro se consumasse! Naquele dia, véspera do seu aniversário, o destino espreitava-a à esquina, atento, mordaz e fatal.
Há minutos em que as tramas da vida nos afastam dos propósitos delineados... e nos arrastam para paragens inacessíveis... Fica na memória cada instante, simples e mágico, em que os olhares se partilham e os corações se incendeiam mas também permanece a frustrante sensação de que o sonho foi, indefinidamente, adiado pela vida... pela morte... pela assaz sina.

Registado fica também o momento tenebroso em que aquele coração feminino, condenado a um amor suposto impossível, nunca revelado... nunca vivido à luz da realidade, é atirado para a penumbra. Uma acto brutal consumado por um pequeno grupo de delinquentes que, na busca incansável de mais umas moedas para a dose diária, não se contentaram em saquear.

E assim principiara um inicio de noite... que prometia ser o começo do desabrochar do Amor e se revelara afinal num exímio e macabro assalto à vida!

sábado, janeiro 08, 2005

30. Bloqueio...

Um... dois... três... uma dezena de minutos passaram e as mãos geladas continuam prostradas sob o teclado numa imobilidade atroz como se da mente nenhuma informação lhes chegasse. Perante esta insubordinação da minha própria essência os olhos fitam a página em branco, expectantes e descontentes.

Dói-me o corpo ou talvez seja a alma! Arrepio-me ou talvez seja o sopro sinistro de um fantasma! Espirro ou talvez seja o expulsar de um velho e maquiavélico espírito! Talvez esteja só constipada e contrariada depois de um dia, puramente, dedicado ao ócio!

As palavras começam, por fim, a surgir no pequeno écran... Muito timidamente, nasce o primeiro esboço do dia. Entre um fungar impreciso e dois ou três bocejos o enredo vai tomando forma e as personagens... corpo e carácter.

Leio e releio cada trecho, numa ansiedade febril de descortinar o desfecho e, uma vez determinado, quedo-me a imaginar o que ocorrerá a quem por um acaso do destino o ler... Devaneios... Agridoces dispersares... ou simples indiferença?!

Por agora, contento-me em saber que amanhã, finalmente, surgirá editado algures num blog fruto do sonho e da persistência.

Por agora!

29. "A Prazo, A Metro" Pedro Mexia



Carta aberta a Pedro Mexia, Cronista da Grande Reportagem.

Não é uma confissão, nem um elogio bajulador, nem "palmadinhas" nas costas. Nem frases lamechas, nem vãs tentativas de reconhecimento, nem pedidos camuflados! É uma mensagem de partilha e agradecimento pela possibilidade de ler as palavras que vai escrevendo... desta vez na crónica semanal da GR. Afinal, um simples comentário de quem, também, gosta de escrever!

É nesta hora incerta, algures numa manhã de sábado, que entre o sumo de laranja e a torrada, se fincam os olhos no jornal e se absorvem as palavras desta nova... velha, publicação.
Folheando as páginas, reconheço o nome, interesso-me pelo título e acabo por ler as frases escritas a metro... com um prazo definido mas também, com um sentido perspicaz da realidade de quem escreve, mais do que por obrigação, por gosto.

Certo é que, se fosse o sultão do Dubai continuaria a dedicar as mesmíssimas horas à expressão escrita e, da mesma forma, pelo prazer de ver surgir mais que crónicas, contos ou simples devaneios, o fruto de uma imaginação naturalmente imprevisível.

Ao contrário do Pedro (Mexia) não existem deadlines a delimitar-me prazos ou caracteres, também porque não faço disso profissão mas, ainda assim, existe uma necessidade inegável de assiduamente editar um ou outro texto no blog recém criado.
O incentivo, esse... vem de um velho sonho, um antigo mote de que escrever e ler nos fazem evoluir como pessoas.

Uma opinião pessoal que talvez não agrade a muitos, ditos escritores e jornalistas, é que os verdadeiros profissionais da escrita não são aqueles que só escrevem "para ganhar a vidinha" mas aqueles que o fazem na certeza da sua vocação e da sua paixão. É fácil escrever meia dúzia de palavras... o difícil é fazê-lo com o cunho e perícia da sensibilidade necessária.

Escrever por obrigação ou escrever por amor... eis a verdadeira questão que poderá distinguir um mau jornalista ou escritor daquele que nos cativa e apaixona.

Como referi, estas palavras são apenas um comentário... de concordância com mais uma das suas crónicas.

Ainda que não seja jornalista nem escritora , vale-me a consciência de que com completar de mais um texto, "a gente sente coisas que o sultão do Dubai desconhece".
A percepção da emoção inerente leva-me a continuar a escrever, nem que seja como neste caso, para lhe desejar um Bom Ano e boas "escritas"!

Até sempre!

segunda-feira, janeiro 03, 2005

28. Padrão dos Descobrimentos


"Avaria no elevador encerra Padrão dos Descobrimentos"
Diário de Noticias, 3 de Janeiro de 2005


Ao percorrer, pausadamente, as páginas de um dos inúmeros livros sobre Lisboa relembro uma notícia lida esta manhã e sem a pretender transcrever limito-me a dispersar...

267 degraus é o desafio imposto a quem desde Setembro pretenda visitar, aquele que é sem dúvida alguma uma das mais distintas insígnias de Lisboa, o Padrão dos Descobrimentos.

Contemplar a cidade, do ponto mais alto do notável monumento, tornou-se num exercício físico apenas acessível àqueles que gozarem de uma melhor preparação ou de invulgar determinação.

Inaugurado em 1960 aquando das comemorações do V centenário da morte do Infante Dom Henrique (1394 –1460), um dos grandes impulsionadores dos descobrimentos portugueses, evoca a expansão marítima e é de tal forma emblemático que muitos são os transeuntes que por lá circulam providos de máquinas de fotografar e de filmar.

Certo é que, em 1985 se concluiu a adaptação do interior apresentando salas de exposição, um auditório e um miradouro de fácil acesso por um ascensor que faz agora, muitos dos visitantes, regressar a outras paragens sem a magnifica vista poder admirar.

O início da obras está previsto para daqui a uma semana tendo sido já anunciado pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural que o edifício deverá encerrar ao público durante o “curto” período de 4 meses. Trabalhos de recuperação o motivo apontado.

Será caso para se dizer que 2005 começa para Portugal, nas suas mais variadas vertentes, encerrado para Obras...

domingo, janeiro 02, 2005

27. Noticias do Mundo



Abre-se o jornal diário e... notícias e mais notícias, a maior parte desagradáveis, pelo que, facilmente, nos apercebemos que os dias que se antevêem não serão fáceis.

Com o orçamento disponibilizado pelo Ministério da Cultura, de 285 milhões de euros, insuficiente para se garantir a abertura de novas iniciativas, muitas das expectativas deste ano sairão goradas.

Portugal, que poderia ser um verdadeiro paraíso, acaba por ser apontado como um país em depressão onde milhões de psicofármacos têm sido vendidas nos últimos anos.
A instabilidade económica e política conjuntamente com a derrapagem da sociedade em termos de valores acabam por dominar o estado de espírito da nação e não oferecer muitos motivos para se colocarem bandeiras à janela!

Sampaio na sua mensagem de Ano Novo defendeu que é imperativo restaurar a estabilidade política, resta saber como e quando tal se poderá concretizar perante o actual panorama. A oportunidade existe, (Claro!) a 20 de Fevereiro mas fica por saber se o "líder" escolhido estará à altura de tão árdua tarefa.

Pelo mundo fora as notícias não são mais animadoras! Guerras ou guerrilhas, mortes ou desaparecimentos, desolação ou horror e assim começa mais um ano!

No meio de tantas abordagens negativas da realidade mundial acaba por chegar uma referência quase despercebida. Uma criança perspicazmente detectou em Phuket, no sudeste asiático, a iminência do que estava para suceder e alertou a mãe. Valeu-lhe a atenção a uma aula de Geografia em que o professor terá abordado o tema de sismos no mar e formação de ondas gigantes e valeu, afinal, a salvação da vida de uma centena de pessoas que foram evacuadas do local.

Será caso para se dizer Bom Ano Novo?! Não me parece... a realidade Mundial é assustadora!