terça-feira, novembro 30, 2004

13. Exercícios de Escrita



Um blog que nasceu do gosto pela leitura... e pelos devaneios que a mente vai ditando! Mais que a dispersão dos pensamentos, pretende apresentar pequenos contos, dissertações, crónicas... cujo tema base terá origem, fundamentalmente, em nomes de livros, citações, provérbios e afins!
Ecos do pensamento, convertidos em prosa ou poesia. Momentos literários, atirados ao acaso de uma hora incerta... em que, mais que imaginar, se escreve!

Assim é, este blog!

12. "A Oeste Nada de Novo, o Blogue da Periférica"


"POR QUEM OS SINOS DOBRAM, Os Meus Livros"
Periférica, N.º11(Outono 2004)


(...ainda a propósito do recém reaparecimento da revista "Os Meus Livros")

"Carta Aberta" ao Sr. Director Rui Ângelo Araújo da revista Periférica:

Pesquisava, eu, assuntos relacionados com a revista "Os Meus Livros" e o seu recém reaparecimento nas bancas quando me deparei com o Blog da Periférica.
Tendo lido algum dos textos aí editados resolvi-me, não a enviar um e-mail "bajulador" mas sim simplesmente a dizer que a nomeada revista ("Os Meus Livros") até pode não fazer falta a Portugal... nem livros aos portugueses mas então não farei eu parte da massa humana que forma o nosso país. Digo isto porque, durante os meses que decorreram entre Maio e Novembro, inúmeras foram as vezes que inquiri os vendedores, nos quiosques lisboetas, sobre o seu paradeiro para então, quando já a julgava perdida, a reencontrar numa pequena loja do Centro Comercial Alvaláxia.
Recentemente, como muitos dos portugueses, também eu me rendi ao fascínio dos blogs e me transformei numa blogger em fase embrionária.
Com efeito o reencontro com essa companheira de longa data serviu de mote a um dos textos editados no Exercícios de Escrita e assim foi, porque na realidade ainda existem portugueses e portuguesas (como diria o político) a quem fazem falta (...muita!) mais que diários desportivos ou revistas vulgarmente apelidadas de "cor-de-rosa".

"Poderão os setenta mil exemplares gratuitos e a forte campanha publicitária prometida pela editora acabar com a indiferença? Tocarão desta vez os sinos, não a finados, mas aleluias?" Rui Ângelo Araújo

Assim o espero, pois se atendermos a que, em Portugal, o nível de iletrados é cada vez maior e os níveis de leitura assumem proporções catastróficas constataremos que a revista "Os Meus Livros" não só é um importante instrumento de divulgação literária como se assume como um forte incentivo à leitura. Espero, também, que contribua para compensar a dificuldade económica que o mercado livreiro enfrenta e ao qual não é muitas vezes permitido a divulgação adequada aos pequenos/grandes tesouros que vão sendo colocados nas bancas.

Como referi inicialmente este não é um e-mail bajulador... mas uma mera opinião pessoal, um grito de Ipiranga ou simplesmente um desabafo de quem sente o fascínio mágico de continuar
a folhear as páginas de um bom exemplar literário!

Até sempre,

Athena

segunda-feira, novembro 29, 2004

11. Amor...



"(...)Quando se é feliz muito novo, a única obsessão que se tem é
aguentar a coisa. Vive-se ansiosamente com a desconfiança, quase
certeza da coisa piorar. O pior é que as pessoas que se habituaram
a serem felizes não sabem sofrer. Sofrem o triplo de quem já sofreu.
É injusto mas é assim.
No amor é igual. Vive-se à espera dele e, quando finalmente se alcança, vive-se com medo de perdê-lo. E depois de perdê-lo, já não há mais nada para esperar. Continuar é como morrer. As pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela."

Miguel Esteves Cardoso

Sentada no velho eléctrico, Matilde, olha para o pedaço de papel na sua mão...
As questões surgem-lhe em torrente... para quê comentar o que não tem comentários?! Para quê procurar outra certeza quando já se possui a verdade?!

A verdade é que existe outro tipo de pessoas que de tão habituadas a sofrer as vicissitudes da vida quando num rasgo do destino se deparam com um momento efémero de felicidade simplesmente convictas de que não será real, o rejeitam! Rejeitam-no, mesmo quando o pretendem abraçar... desviam o olhar quando o que pretendiam seria partilhar o mágico calor da fogueira que se ousou acender... tudo porque aprenderam a conhecer a dor e a tratá-la de modo íntimo... tão íntimo e profundo como uma amiga!
A este tipo de pessoas está vedado o exultar da paixão, o delírio do desejo ou simplesmente o elixir fascinante do amor!

Matilde ergue-se do velho banco saindo numa qualquer paragem da Graça.
Percorre as ruas como um fantasma e de tão absorvida não repara nos vultos que a cercam... tal como não reparara mais do que um ínfimo segundo no sentimento que Duarte lhe despertara...

A vida é um mistério agridoce que nos traz demasiadas surpresas para os quais não estamos preparados... inclusivamente o AMOR!

domingo, novembro 28, 2004

10. Não chores (...) aconteceu." Gabriel Garcia Marquez



O dia amanheceu triste...
O céu carregado e o vento, indisciplinado, a atiçava-a de forma leviana. Ora lhe despenteava os caracóis dourados, ora lhe levantava a ponta do vestido ou, simplesmente, a empurrava de forma pouco confortável ao atravessar a movimentada rua.

Era Setembro... o Verão findava!

9:05 estava atrasada!!
Como sempre o levantar apressado!
A habitual correria para entrar no 44 quando, o amarelo autocarro, já se preparava para arrancar da paragem e, depois o atalho pelo Parque Eduardo VII para subir os incontáveis degraus até ao escritório... já muito depois da hora desejada!
E o pequeno almoço?! Voltara a esquecer-se de parar na pastelaria da esquina para comer alguma coisa.
O estômago dentro de duas horas estaria possesso a reclamar o malfadado esquecimento.
Que a esperaria naquele dia?!

Trabalhava naquele edifício há cerca de seis meses e estava contente com o trabalho que desenvolvia. Finalmente, após uma longa espera conseguia a almejada função... coordenar a formação de uma empresa de média dimensão mas que há muito marcava a sua posição na área das novas tecnologias.
Era tida como uma mulher bonita, algo solitária e distante, mas bastante ciosa das suas responsabilidades.
Respeitada e contidamente acarinhada por todos tinha consciência que gerava alguma curiosidade. Aparentemente ignorava-o.
No final da tarde sentia sobre si olhares curiosos à espreita como que à espera que algo tenebroso sucedesse mas... ao invés de lhes retribuir com agressividade o olhar, um ténue sorriso apareceu no seu rosto... Já nada daquilo a incomodava!
Saía do trabalho com a sensação de missão cumprida, ansiosa por meter a chave na porta e aterrar durante cinco minutos no conforto do seu sofá. Gostava da sensação que aquela casa lhe dava... de profunda calma. Aquele era o seu mundo privado... ainda que algo no seu intimo persitia em lhe recordar que em tempos tinha sido diferente...

A vida reservara-lhe uma grande surpresa!!

O lento passar do tempo encarregara-se de cicatrizar as feridas e de a ajudar a restabelecer-se da avalanche de sofrimento que tomara conta dos seus dias. Ainda acordava a meio da noite com a fronte repleta de gotinhas de suor e os olhos turvos alterados pelas lembranças que lhe assaltavam a mente durante o sono mas dentro de si renascia a esperança nos dias que despontarão...

O dia foi-se esvaindo num ápice e quase não teve tempo de se lembrar do pequeno almoço por tomar ou mesmo que engolira um iogurte a meio da tarde para enganar a tensão arterial. Estava a descuidar a sua saúde mas o trabalho, nos últimos tempos, havia sido tanto que a absorvia por completo.

19:55 Olhou ansiosa pela janela.
Num acto impensado, impulsionado talvez pelo isolamento em que vivera os últimos meses, combinara encontrar-se com Francisco no final do dia. Faltavam 5 minutos e da janela da sua sala via-o parado do outro lado da rua. O cigarro na mão, o olhar pousado numa criança que brincava no parque e o corpo encostado displicentemente no carro.
Era um homem que possuía uma beleza invulgar que em nada tinha a ver com os figurões das capas de revistas demasiado abonecados. Que idade teria? Nunca o soubera mas supunha que rondasse os trinta e dois.

20:10 Estava atrasada!! Sorriu. Atrasar-se estava a tornar-se um hábito.
Desceu as escadas apressadamente enquanto vestia o casaco e mesmo sem querer voltou a recordar o malfadado dia...
Não voltaria a suceder. Era o Francisco quem a aguardava.
Atravessou a rua ao mesmo tempo que no seu rosto se abria um tímido sorriso.

-Olá! ...estou atrasada!
-Estás...

Aquelas primeiras palavras murmuradas como se fossem uma confidência marcaram o início de uma nova fase na vida dela, em que não havia margem para perder os seus preciosos segundos a relembrar a interpelação fatídica:

-Você é que é a mulher do amante da minha esposa?!

Era passado e enquanto ia tecendo estas considerações olhava para o homem a seu lado.
Durante meses recebera os seus telefonemas com alguma reserva e quando respondia ás mensagens que se iam acumulando no seu telemóvel tinha sempre o cuidado de manter alguma distância. Nos últimos dias, porém, sem que se desse conta do porquê algo mudara e o resultado final era que ali estavam eles.
Disfarçadamente olhou para ele.
Gostava do seu tom de voz, da doçura com que a olhava e do diálogo inteligente com que a brindava.
O futuro era uma incógnita mas naquele instante sentia-se em paz consigo, com a vida e com as pessoas que a cercavam.
O vento da manhã como por arte de magia cessara e as folhas das árvores há muito que quase não balançavam. A calma reinava e a noite foi avançando marcado pela cumplicidade que nascera naturalmente entre eles. Descobriram gostos comuns, defenderam ideais divergentes e no fim afinal o bom humor imperava.

23:59 Entrou na casa, olhou para o sofá saudosa e sentiu-se como se fosse a gata borralheira. Chegara um minuto antes da meia-noite.
Entrou na cozinha, fez café e com a taça fumegante sentou-se por fim no companheiro de todas as noites. Estava feliz.
Como dissera Gabriel Garcia Marquez:

"Não chores porque terminou sorri porque aconteceu".

Afinal, nem tudo tinha sido mau. Antes de descobrir a traição fora feliz e hoje, amadurecera... Era o produto fiel de quanto vivera! Conhecera alguém e voltara a descobrir o prazer de rir a dois…

Os olhos começaram a fechar-se. Começava a adormecer mas não sem se questionar... como seria o dia seguinte?!
Um ténue sorriso persistiu no seu rosto mesmo quando o sono a envolvera há muito...

...a esperança renascera no seu intimo!!

sábado, novembro 27, 2004

9. "O Código Da Vinci" Dan Brown



Novembro...

...mês das castanhas, da água-pé, também da jeropiga e da prova do vinho.
A apanha da azeitona e as lides que lhe são inerentes ocupam o dia-a-dia dos pequenos povoados do interior enquanto geadas se abatem sobre os campos.
Indiferente a tudo isto, nas grandes cidades, o quotidiano decorre sem grandes artefactos... mais um dois concertos, meia dúzia de filmes e peças de teatro a estrear, algumas exposições abertas ao público e a habitual correria semanal, casa-trabalho... trabalho-casa....
Mas... em todos os recantos, as iluminações de Natal chegam e imperam relembrando ao Homem que um dia houve, não necessariamente a 25 de Dezembro, em que um ser muito especial nasceu. Um líder... que mesmo nos tempos que correm move multidões e os faz acreditarem com esperança no dia que despontará amanhã!
Recentemente tive a oportunidade de ler "O Código Da Vinci" de Dan Brown... um romance, na minha opinião, que aborda um ou outro ponto de referência válido e real!
Estupefacta, e após de horas de pesquisa constatei que, efectivamente, existe uma imagem feminina no quadro de Da Vinci, intitulado "A Última Ceia" e, com efeito Maria Madalena poderia descender da poderosa Casa de Benjamim não sendo, como tanto se apregoa, uma prostituta... Mas mais que isso, existiu realmente o Priorado de Sião havendo mesmo registos de que tenha sobrevivido até aos dias de hoje.
Mistérios que a história não nos permite revelar fidedignamente quando, como é relatado e bem por Dan Brown, "A Bíblia é um produto do Homem... (...) O Homem criou-a como um registo histórico de tempos tumultuosos, e tem evoluído ao longo de inúmeras traduções, adições e revisões."
Como saber o que é real... ou o que é fruto da imaginação humana?! Será certamente tão difícil responder a esta questão como a uma outra:

De onde vimos... para onde vamos?!

"...e Deus criou o Homem." ... assim o refere a Bíblia. No entanto quem ainda não ouviu falar da Teoria de Darwin acerca da evolução das espécies?
A eterna batalha entre o evolucionismo científico e a Bíblia persiste mas o certo é que, na verdade "O Código Da Vinci" é um belo exemplar de literatura que nos cativa, intriga e convence da existência de muitos mistérios que ciência e religião nunca, pelo menos até aos tempos que se antevêem, poderão explicar!

8. O mote dos Romances...



Olhares partilhados, carinhos trocados, confidencias reveladas, promessas mudas que não ficam por realizar... e, afinal, duas almas... dois corpos... o mesmo sentimento ardente, mágico e tão especial como tu... como nós... como todos Nós!

Sugestão do dia

"As palavras que nunca te direi" Nicholas Sparks

"Amor em tempos de cólera" Gabriel Garcia Marquez

sexta-feira, novembro 26, 2004

7. "Casa Pia O dia do Juízo"
in DN, 25-11-2004



A noite avança e o pequeno écran do computador capta a minha atenção enquanto recostada na cadeira aguardo a actualização do blog.
O dia foi longo e mal tive tempo de folhear o jornal comprado muitas horas antes. Já cansada de tanto tentar compreender a lógica da linguagem html decidi-me a folhear as suas páginas...

"Casa Pia O dia do Juízo"
...o anunciado julgamento, enfim, começou!! Um julgamento que nos parece chocante e apropriado quando o que estão em causa mais do a violação de menores são os Direitos da Criança, expectantes aguardamos o resultado que a justiça portuguesa determinará...

Os descréditos afirmam que os culpados acabaram por ser ilibados mas outros há que sendo fieis seguidores da verdade acreditam que esta será a grande vitoriosa e aqueles que se enviesaram por práticas criminosas serão finalmente punidos.

Eu... apenas sinto o peso da revolta a assolar-me quando incrédula constato que existem seres ditos humanos a incorrerem em tamanha barbaridade como a pedofilia...

Que prazer se pode retirar de maltratar crianças e sujeitá-las a actos sexuais cujo ritual apenas promove a satisfação de um desejo animal, unilateral, egoísta e hipócrita?!

Que servirá de mote a alguém para aliciar um indefeso a semelhante prática!?

As crianças necessitam de protecção, compreensão e mais do que isso amor, não que as violem e lhes roubem o que de melhor há nelas: a inocência!

Princípio 6º
"Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. (...)"

Princípio 9º
"A criança gozará protecção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração. (...)"

In DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA proclamada no dia 20 de novembro de 1959, por aprovação unânime, pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

O acto sexual deveria ser encarado como um acto de afecto... amor... partilhado... não como um momento fugaz de violência, ou mutilação de valores morais... é assim que o imagino e é desta forma que o sinto!

Tentei durante meses encontrar palavras para definir as emoções que brotam das minhas entranhas cada vez que me deparo com notícias sobre este cancro social e adoptaria certamente uma linguagem em tudo brutal... como o é a realidade vivenciada por todos os rostos sem nome das vitimas da pedofilia para definir tudo quanto me ocorre.
A pergunta repete-se... Como poderá alguém permitir-se a ideia de violar a essência pura de um pequeno ser indefeso... e pior que isso concretiza-la?!

Como podem seres ditos racionais aproveitar-se desta forma cruel da inocência?!

É bárbaro! Doentio e sinistro!

Continuo a acreditar que o melhor do mundo são as Crianças...

quarta-feira, novembro 24, 2004

6. "Não chores porque já terminou, sorri porque aconteceu" Gabriel Garcia Márquez

Vivem-se os últimos dias de Primavera... as esplanadas estão repletas de turistas e o calor acentua-se com o meio da tarde.
Um vulto sentado numa das inúmeras mesas de um bar decorado ao delicioso estilo irish... suspira!! O sino ao fundo, junto ao balcão recolhido no seu silêncio... balança suavemente... e é o sotaque inglês, aqui e ali... que quebra a monotonia!
O dia a findar... e de pernas cruzadas, numa atitude displicente, olhar perdido no nada... lá estás tu! Sorriso no rosto, a imperial a meio, um cigarro entre os dedos compridos de uma mão que há muito se esqueceu das emoções despertadas no simples acto de tocar... Agarras as palavras que vão surgindo na conversa banal que manténs, sacodes as verdades e recordas, entre dois minutos, como foi respirar... acariciar... amar... e afinal... tão somente viver!!
Quase sem teres noção do que sucede ergues-te da cadeira e caminhas rumo ao rio... olhas as águas outrora límpidas, agora, tão somente, calmas... e num movimento quase imperceptível da tua cabeça negas a imensidão do que te faz sentir... porque para ti já nada faz sentido... pois não?! Terás esquecido que o dia apenas chega ao fim?! Julgarás, tu, que amanhã o sol não surgirá resplandecente no horizonte!?

O movimento dos ponteiros do relógio é-te indiferente... agora que finalmente avalias o seu movimento passado...
A tarde esvai-se... chega a noite...
As mãos nos bolsos…o passo firme... como se há muito tivesses traçado o teu trajecto... e os olhos?! Os olhos vagos... focando um ponto impreciso para lá do horizonte... Pensas... recordas... analisas e nesse momento, pleno de agonia e insatisfação, a lua... companheira... amiga... amante mágica das noites solitárias abraça-te... incendeia-te e faz brotar do mais fundo da tua essência aquele sorriso... de quem já viveu... de quem já morreu mas ao invés de lamentar os momentos passados... apenas os relembra com a candura e a sabedoria dos que adquiriram o dom de transformar os ditos pesadelos no mais doce dos sonhos!!!
Ergues o rosto... alargas o sorriso... e num rompante dás-te conta que, afinal, a teu lado caminham milhões... milhões de vultos... outrora corpos... Dás-te conta!!! Sim!! Morreste... não há que derramar lágrimas, viveste!!

Os minutos passaram por ti...
Na manhã seguinte o leito branco foi invadido pelos doces raios de sol... e entre pensamentos tardios mas precisos de quem já suspirou pela última vez... finalmente é-te possível... prosseguir a tua viagem… interminável... e contemplar alegremente o que de novo se avizinha na tua nova existência!!

Morreste para renascer...

5. "As Palavras que nunca te direi" Nicholas Sparks

A noite mal dormida... o levantar apressado... a ansiedade a queimar o ar que se respira... o murmúrio surdo das vozes circundantes, actuam sobre o corpo e alma de forma pouco condescendente!!

Sinto-me prisioneira de uma sina que não moldei...

Percorro com o olhar a paisagem para além da janela insípida do comboio que vai deslizando pelos negros e frios carris...

Sinto-lhe a força viva... o encanto e a magia... e entre emoções... sentimentos ou meios pensamentos desperto do torpor que me assolou desde a madrugada... As dúvidas renascem das cinzas, as inseguranças do ar e a desconfiança é uma realidade demasiado dura e incompatível com a calma que é imperativo conquistar!!

Os raios de sol invadem a carruagem... motivando breves comentários... eu recolhida no meu assento impessoal... que afinal é de milhões... reconheço que neste momento a água tépida de uma praia do sul seria uma oferenda dos deuses!!

Por fim... a memória recupera a lucidez...

Amanhã, pela mesma hora, estarei numa praia do sul... despertarei com a caricia extenuante da brisa na minha pele e pensarei nas... "palavras que nunca te direi"... e do teu lado... e ainda que o meu vulto esteja lá... não haverá mais que ninguém porque eu morri quando pensava nascer...

Durante anos a fio dir-te-ia com alguma incerteza que os grandes amores nunca vencem... hoje digo-o com a certeza da derrota!!!

Olho os rostos das pessoas e em silêncio questiono-as... já amaste?!

Sinto um leve tremor nos meus lábios... dor contida... lágrimas por chorar... gritos calados... eis-me no silêncio das trevas... sem confiança, esperança ou segurança!!

Eis-me no auge da idade a desejar que a velhice chegue em breve... e que em breve possa cerrar os meus olhos sem sentir este desespero!!

"As palavras que nunca te direi"... mais que o título de um livro... mais que um segredo oculto... são palavras caladas... cravadas no mais fundo do meu intimo, revelando-se a cada momento como a expressão viva da essência que me faz erguer o rosto... desafiar o infinito e revelar... nas páginas impessoais de um jornal... que os grandes amores são como a brisa do mar... nas madrugadas onde a Lua não vigia a Terra e as estrelas se esquecem de acordar!!!

(in Diário de Aveiro, Domingo, 15 de Junho de 2003)

quarta-feira, novembro 17, 2004

4. Gosto... Não Gosto...

Gosto do mar, da areia e da água salgada. Não gosto de pimentos crus. Gosto do Sting, de Alphaville, de Whitesnake, de Anathema... dos Firehouse... Não gosto do frio, da chuva e do Inverno. Gosto de ler... crónicas, romances, reportagens… livros! Não gosto de não ter tempo. Gosto de fotografia a preto e branco. Não gosto de lojas muito cheias e desorganizadas. Gosto do Chiado, de Alfama e do Bairro Alto. Não gosto da 24 de Julho. Gosto dos Maias e do Eça. Não gosto de saltos altos. Gosto de Morcheeba. Não gosto de comida fria. Gosto de bolo de chocolate. Não gosto do Inverno. Gosto de Coltrane. Não gosto de répteis. Gosto de Scorpions, de Tom Waits e dos Pink Floyd. Não gosto de cães de luta. Gosto de passear. Não gosto de música pimba. Gosto de estar sozinha… mas não sempre. Não gosto de ruas barulhentas e desorganizadas. Gosto de gostar. Não gosto de vozes estridentes. Gosto do Galloping Hogan’s, do Peter’s, do Havaii, da República e do Património. Não gosto de ver crianças maltratadas. Gosto da sinceridade, da lealdade, do respeito e da cumplicidade. Não gosto de modas. Gosto de gatos, pinguins e cavalos. Não gosto de discussões, de mentiras ou infidelidades. Gosto de vestidos, biquinis, saias e corsários. Não gosto de guerras com sentido ou não. Gosto de caril de frango com frutas. Não gosto de roupa de Inverno. Gosto do campo, do rio e do pinhal. Não gosto de cidades grandes e impessoais. Gosto de escrever. Não gosto de insectos. Gosto da Marion Zimmer Bradley, do Camilo Castelo Branco, da Isabel Allende e do Nicholson Sparks. Não gosto de não gostar de política. Gosto de jardins, parques naturais e de qualquer pequeno espaço verde. Não gosto de Saramago (Que me desculpe quem aprecia.) Gosto de Aveiro. Não gosto de matraquilhos. Gosto de passear de bicicleta. Não gosto de Lisboa para envelhecer. Gosto de snocker. Não gosto do descuido a que se votam os monumentos nacionais. Gosto de sabores agridoces. Não gosto de bairros de barracas. Gosto de andar a pé à beira do rio, junto ao mar ou nas zonas históricas das cidades. Não gosto do racismo nu e cru e viva quem um dia criou a máxima: “Todos diferentes, Todos iguais.” Gosto de ruínas. Fascinam-me os enredos imaginados quando lhes toco. Não gosto de me sentir a estupidificar. Gosto de livros. Não gosto sapatos desconfortáveis. Gosto de mim e de ti. Não gosto de relações fortuitas e imprecisas. Gosto de rosas amarelas. Não gosto de trigonometria. Gosto de Kandinksy, Picasso, Dali… Não gosto de aranhas. Gosto de passeios nocturnos na praia. Não gosto do “Grito” de Miró. Gosto de lareiras e salamandras. Não gosto de centros comerciais. Gosto de calmamente ler o Diário de Notícias sentada numa esplanada. Não gosto de festas elitistas. Gosto de ficar horas a olhar o vai vém descompassado das ondas. Não gosto de gin. Gosto de andar de avião, de barco e de mota. Não gosto de ler jornais na Internet. Gosto de Itália, Grécia, Cabo Verde, do Egipto, da Madeira e dos Açores. Não gosto de alimentos de sabor amargo. Gosto de frutos exóticos. Não gosto de futebol. Gosto dos velhinhos livros de papel. Não gosto de vento. Gosto do Tejo. Não gosto de sapos. Gosto de Castelo Branco. Não gosto de banda desenhada. Gosto de anéis, pulseiras e afins. Não gosto do Salazar. Gosto da Maria Gambina e do Tenente, da Fátima Lopes e do João Rolo. Não gosto da Almirante Reis. Gosto da Fnac e da Bertrand. Não gosto de não gostar de algumas coisas mas... gosto muito de mim! E de todos os que ganharam um cantinho no meu coração!

domingo, novembro 14, 2004

3. "Os Meus Livros"

O dia já vai longo e a tarde finda enquanto a multidão avança de cá para lá e de lá para lado algum, num ritmo frenético.
A ansiedade domina o estado de espírito de cada um...
Daqui a uma hora começa o jogo... mais um dos inúmeros que o estádio multicolor já recebeu.
Como adepta convicta mas não "ferrenha" lá estou eu de cachecol ao pescoço e alma sorridente perante a esperança de um feliz desfecho para o clube da minha eleição.
Devo ser uma das únicas ou talvez a única mulher que se lembra de ir ao estádio sozinha... e ainda assim nada me demove muito menos a baixa temperatura que se sente ao despontar da noite!
Circulo pelos corredores espaçosos do centro comercial que ladeia o estádio quando uma das vitrines capta a minha atenção.
Finalmente, ai está ela... linda como nunca, a captar a atenção dos transeuntes para o colorido da sua face!
Entro na loja... procuro-a com os olhos. Desde Maio que a tinha pensado perdida... para sempre mas não... eis que, ali está!
Sorrio discretamente!
Linda... quase a imagino a acenar-me... a sorrir-me como a uma velha amiga e incapaz de lhe resistir, minutos depois saio da pequena loja abraçada a ela.
Procuro ansiosamente por um lugar vago nas inúmeras mesas da zona de restauração. Busca em vão!
Nada me demove!! Saio para a rua, encaminho-me para um banco e é então que no desconforto de um banco frio de cimento sob o gelo de uma noite ainda mais frio que lhe folheio as primeiras páginas descobrindo afinal o motivo do distanciamento a que nos últimos meses fomos submetidas!
Exulto, absorvida pelos caracteres impressos... e com a feliz sensação de um reencontro!

Agora que a encontrei... nada me fará voltar a perdê-la!