terça-feira, fevereiro 21, 2006

113. As cores da memória

A tela em branco entorpece o sono.
Solta-se o corpo e a mente.
O pincel desliza sobre o linho
Com destreza e carinho.
Suspiro consciente...
Do irresistível fascínio que me submete,
A esta sede de vencer a realidade
E retratar o sonho.

Amarelo,
Azul,
Vermelho...

Nasce o velho,
O corpo dobrado, contorcido sem dor,
Num movimento estático
De quem sabe ter vida e cor!

Verde,
Laranja,
Violeta...
Insinua-se o perfume,
Flui pelo ar...
Até inebriar cada recanto da redoma
E me hipnotizar como um mago.
Rolo... enrolo a espátula e dou-lhe textura...

Preto...
Negro como carvão,
O chão frio de xisto.

Estendo a mão,
Cerro os olhos...
Imagino que não existo
E que a única realidade é aquela...
Um quadro multicolor cheio de vida
quase sinto o calor
Das chamas que do chão brotam

Se a morte o tivesse poupado
E não me tivesse roubado esse ser tão amado.