sexta-feira, fevereiro 18, 2005

47. Emoções!

O sol vai invadindo os recantos, da superfície terrestre, enquanto o comboio desliza sobre os carris.

O jornal ficou por comprar, as notícias por ler… O início da manhã foi caracterizado por uma invulgar azáfama. Dali a horas, 9 ou talvez 10, os seus progenitores entrarão pela porta. Invadirão, docemente, o pequeno espaço do T1 e sentirá, novamente, aquela alegria pueril envolver-lhe cada poro, cada célula, cada ínfima parte do meu corpo.

Este fim de semana descuidará a habitual rotina, prescindirá daqueles momentos que tanto preza, mas será recompensada, pelo carinho e amor recebido a cada instante.
Esquecida será a instabilidade do país, a hipocrisia da campanha eleitoral, o trabalho precário. Não haverão livros a ler, textos a escrever, notícias a devorar… caminhadas a realizar ou cafés solitários a tomar, enquanto se contempla a beleza mágica do Tejo, no fim da tarde.

Haverão, sim, instantes em que prevalecerá o amor, os risos, o aconchego de ter as pessoas que mais ama junto a si! Até a memória esbatida de um ou outro momento, em que o seu coração bate descompassado, será suplantada pela felicidade de poder encarnar esse seu lado, sensível e puro, de filha "babada", aplicada dona de casa, exímia cozinheira…

Há noite, mais que o eco da sua voz, serão os timbres suaves do pai e da mãe que se ouvirão e ao adormecer saberá que é feliz…

Ana em nenhum destes momentos sentirá a ausência de Filipe, para quem os dias há muito deixaram de despontar.

Ao contrário do que se possa pensar, não se refere a memória nostálgica de uma triste história.

Durante anos contaram com o apoio, incondicionável, um do outro. Viveram, intensamente, o amor que os consumia, numa plenitude tal que quando a morte os separou nenhum adeus havia a sussurrar. O silêncio sepulcral foi, tão somente, quebrado pelo murmúrio, abafado e grave, doce e profundo, sensível e mágico das suas vozes: Até breve…

Tão breve como o é… a vida!

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