domingo, fevereiro 06, 2005

42. Memórias não apagadas...



Há comentários que nos atingem com a força de mim tormentas. Palavras que nos fazem parar no tempo e deixar o pensamento solto, a marcar compasso, lado a lado, com o coração.

Na quarta-feira escrevi um pequeno conto sobre memórias de uma mãe... uma história entre muitas! Falava de sentimentos... de lembranças e, afinal, de como as pessoas continuam vivas dentro de nós quando as recordamos com amor!

Os comentários não se fizeram demorar...

Ricardo, com assento num outro cantinho da internet, o blog Tá de Noite, é o autor do comentário onde se pode ler um texto de Paulo Geraldo - O André... a história triste de um professor que perde um aluno... um amigo.

Porque me comoveram as palavras?! Recordaram-me amiguitos que perdi quando deixei o meu último trabalho. Meninos e meninas que muitas vezes sofriam maus tratos, dos que deveriam ser os primeiros a defendê-los... que chegavam à sala de aula com os olhos esbugalhados de lágrimas e com a fome a impedi-los de se concentrarem nas actividades. Crianças que perdi porque, infelizmente, temos o país que temos e o ensino é a realidade que se vê. Só assim explica que tenha trabalhado três anos e meio num projecto da Câmara Municipal de Lisboa e nem um contrato tivesse.

Hoje, dois anos e meio volvidos, mantenho contacto com dois ou três desses pequeninos seres. Entretanto cresceram. Transformaram-se em adolescentes conscientes e afáveis. Outros há... cujo paradeiro desconheço.

As recordações vão ressurgindo e não consigo evitar relembrar-me de três rostinhos lindos que foram retirados à guarda da família. Porquê?! Porque para a mãe mais importante que trabalhar, para os sustentar, era passar o dia num café a cheirar a mofo, lá para o lado de S. Bento. Mais importante que dar um simples banho aos filhos era sugar mais um cigarro e esvaziar mais uma cerveja. Mais importante que amar era autodestruir-se e arrastar consigo aqueles seres indefesos e inocentes...
Recordo com tristeza o dia que não os vi entrar a correr pelo pátio. O mesmo em que as suas cadeiras passaram a estar vazias... tal como o coração daquela mãe, sempre estivera! No entanto, se hoje forem felizes, terá valido a pena....

O cepticismo envolve-me sabendo o que sucede, actualmente, nas instituições que albergam estas crianças! Quero ter esperança... e acreditar que lhes está destinado um futuro risonho. Deste modo, atenua-se a sensação de perda... e de impotência!

Na verdade... tudo isto me recorda que, existem muitas formas de se perder as pessoas de quem gostamos. Nem sempre o esfumar dos entes queridos se relaciona com a morte. Acredito que, na maioria das situações, é o simples enredo de uma vida que sabe ser madrasta... o que faz com que os elos físicos se quebrem...

Sem comentários: