terça-feira, fevereiro 15, 2005

46. Permitam-me duvidar!



É sentada no café, a meio do dia, que rabisco estas palavras.

Permitam-me duvidar da justiça portuguesa!
Permitam-me duvidar das notícias que leio, dos julgamentos que se fazem, mas também me permitam duvidar da inocência dos que a alegam!
Contra-senso?! Talvez!

Durante anos admirei-lhe o timbre da voz, o sorriso carismático com que nos brindava e o senso de humor com que ia entrando pelas nossas casas! Não falo de Herman José... a esse nunca tive em grande conta! Que me perdoem os seus fãs! E, até, ele próprio! É a outro que me refiro, a quem os enredos da vida perturbaram o que se suponha uma equilibrada caminhada.

Acreditamos no que queremos acreditar ou se calhar nas meias verdades que nos vão sendo relatadas, certo é que... permitam-me duvidar!
Permitam-me, ainda, chocar perante crimes brutais como estes que agora se julgam! Permitam-me duvidar das investigações que se fazem e das conclusões que se tiram!

Não pretendo fazer destas singelas palavras um apelo para que se acredite na, suposta, inocência deste ex-senhor da televisão. Quero, apenas, crer que algures perdidos no tempo estão os episódios que poderão provar a sua inocência. Ou pelo menos ressuscitar a representação fiel do sucedido!
Os crimes de que é acusado são por demais atrozes. Os tenebrosos "factos" documentados afiguram-se excessivamente sórdidos para que aquele ser, que nos invadiu cordialmente as casas, durante anos, os ter praticado.

Diz o povo que "quem vê caras, não vê corações", relembrando-nos que "onde há fumo, há fogo" enquanto, uns e outros, vão murmurando "a justiça é cega"... Será?!

Quantos detinham informações fidedignas de toda a brutalidade cometida com as crianças e se calaram durante anos?! Quantos participaram activamente na violação dos direitos destes pequeninos seres?! Quantos se renderam ao estupro porque os cativavam os presentes recebidos?! Quanta verdade?! Quanta Mentira?! Alguma vez se apurarão os acontecimentos passados?!

Permitam-me duvidar... que seja um vil carrasco de inocentes seres!

Desde o início do processo Casa Pia aguardei novos dados, novas provas, novos testemunhos, numa busca constante da verdade, a mesma verdade que agora Carlos Cruz exige do tribunal.

"Exijo deste tribunal a verdade, a verdade da minha inocência, porque eu estou inocente."

Será que a obterá?! Será que a obteremos?!
Ou será tudo reflexo de mais uma trama cabalística, de uma sociedade dita justa, moderna e inteligente...

Aguardaremos, expectantes, o desenlace... ainda que de esperança já pouco reste!

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