quinta-feira, janeiro 27, 2005

37. Ilusões reais ou reais ilusões?!




Porque se hão-de desprender os sonhos da realidade, se a vida que se lhe afigura é um enredo de ilusões distintas e mágicas?! Nelas acredita com a certeza convicta de que são materializadas no quotidiano dos seus dias e, ainda que o contar das últimas horas tenha sido o mais vil dos tormentos, sabe que nada daquilo existiu a não ser para si...

A confusão dos seus pensamentos assalta-o, na esquina escura da avenida, mas nada o impede de continuar a divagar que a vida é um agridoce sonho, não um simples logro do destino... ou o pesadelo desmedido de contas a pagar, discussões a ter ou de stress a envolvê-lo. A vida... a sua vida é, afinal, o produto fiel da sua capacidade de crer ou querer! Deste modo, acredita que o despontar do novo dia lhe trará a clareza de pensamento e o discernimento, preciso e objectivo, para acreditar que será feliz mais do que possa ser naquele instante.

Ana ou pelo menos o seu espírito estará viva e feliz algures num mundo que não será necessariamente o seu... As lágrimas que lhe brotaram segundos antes, quando terá entrado na sala vazia do hospital e murmurou num triste lamento a sua despedida... não foram mais do que, a sua imaginação a erguer-se do mais profundo da sua alma, a recordação de uma história lida algures num outro existir. O velório que vislumbrou seria, tão somente, uma ténue fracção de um momento de promessas e confissões imediatamente antes do reencontro...

Sim! Dali a momentos voltaria a ouvir os seus risos, a sentir o toque cálido da sua pele e a sentir a doçura da sua respiração! Mesmo que fosse necessário saltar de mundo em mundo até finalmente reencontrar o aconchego dos seus braços e a profundidade do seu sentir!

A caminhada terminara. A porta de casa fora aberta e cerrada calmamente. O bater do seu coração acelerava-se. Como sempre que a tinha diante de si...

- olá, amor!

Ficara por desvendar o desfecho do enredo de uma história vivida num outro mundo... mas tão real como o beijo que agora Duarte depositava nos lábios quentes de Ana! Pelo menos assim o opinaria ele! O mais comum e infeliz dos mortais talvez apenas entrevisse o vazio das paredes que o aguardava por detrás da porta maciça...


Nada é ilusão... ou sonho... ou impossível se estivermos convictos da nossa capacidade de acreditar... mais que nas coisas ou nos outros seres... mas em nós próprios e na dimensão do nosso AMOR!

(o que apelidamos de fruto da demência pode ser apenas o reflexo exacto de uma realidade que não vemos porque nela não acreditamos...)

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