terça-feira, janeiro 25, 2005

36. Um caloroso... até já!




Sentada na desconfortável cadeira da secretária, onde durante horas me debruço sobre o teclado escuro, sinto os raios solares afagarem-me as costas. A sensação agrada-me e por momentos contemplo um ponto indefinido do écran. O pensamento foge da sala impessoal e sinto saudades da praia... do pequenino café e da esplanada onde durante tantas horas te tive por companhia.
Fecho os olhos. Inspiro o ar abafado. Sinto a misturas de odores inalados incomodar-me as narinas enquanto me imagino a uma dúzia de quilómetros... a respirar numa outra atmosfera onde impera o cheiro a mar.

Olho-te embevecida e quase te acaricio o rosto, numa muda confissão desta paixão que domina o meu ser e me faz, noite após noite, roubar horas ao sono.

Incrível como escolhes os momentos mais inoportunos para me assaltar com memórias, devaneios ou simples desejos, irremediavelmente, irresistíveis e assolapados.

Uma voz irritante e desprovida de qualquer beleza arranca-me deste doce torpor. Relata-me... mais um... insípido episódio ocorrido algures no mapa português. Ao passo que a ti te bebo as palavras, completamente embevecida, ao ser que tenho o desprazer de escutar apenas reajo com enfado e uma simpatia forçada.
Porque teria que contactar neste preciso instante em que saboreava através da fluidez da mente, mais que a frieza das tuas páginas de papel, a recordação quente e sedutora dos encantos que me trazes...

Sim! És um livro! Para muitos, apenas um livro! Não o serás, certamente, para mim! Quantos anos se passaram desde que descobri a tua existência?! Quantos se passaram, ainda, até que a vida ou a morte me façam esquecer de ti?! És o eterno companheiro, que me apaixona e faz vibrar, por isso sou incapaz de te dizer adeus ou até sempre... permaneço de ideias fixas no mais caloroso, até já!
E é assim, que retomo o trabalho. Afasto-me de ti, por um par de horas. É certo!
Concentro-me naquela voz horripilante que não hesita em descarregar sobre mim a frustração que consome a sua essência. Durante largos minutos, fico atada a ela. Questiono-me sobre a utilidade daquele diálogo surrealista que deveria ser, tão somente, o esclarecer de meia dúzia de fúteis informações... Sinto saudades do teu equilíbrio! Do teu cheiro... e de te tocar!
Segue-se outra voz... desta vez mais cativante e melódica!
A tarde avança! Fica a promessa silenciosa de te compensar mais tarde...
Até já!

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