quarta-feira, abril 06, 2005

72. Reflexão matutina




O funcionário camarário lava a rua e os passeios enquanto a empregada do pequeno quiosque vai servindo cafés aos matutinos clientes.
O céu está nublado e o ar húmido. Será Outono?! Não! O calendário não deixa margem para dúvidas. A Primavera sucedeu ao Inverno há cerca de duas semanas e faz-nos sonhar com o resplendor da natureza.
A música popular é emitida pelo pequeno rádio. A sorridente senhora que, entre simpáticos comentários, presenteia os clientes com os “bons-dias” sintonizou-o, há momentos, ao acaso.

O edifício imponente do pavilhão Atlântico assemelha-se a um cogumelo gigante e da enchente humana que assaltou o seu recinto não resta o menor indício. Os degraus de que o envolvem estão impecavelmente limpos.

Diariamente deparamo-nos com inúmeras notícias que retratam uma Lisboa suja, repleta de estradas com pavimento irregular e “esburacado”, passeios convertidos em parque de estacionamento ou casa de banho da espécie canina e ambientes tão decadentes que é com prazer que, nesta hora, se contempla o ambiente que nos rodeia.

Na esplanada as mesas estão dispostas de forma geométrica e algumas foram ocupadas por pessoas que trabalham nas imediações. As conversas são mantidas num tom controlado. Um ou outro veículo passa a baixa velocidade na estrada que nos separa da imponente construção, em tempos designada por pavilhão Multiusos.

Comparar este “recanto alfacinha” com outros da cidade é impossível, na medida em que seria injusto e tendencioso. Como confrontar o reboliço de Picoas, da baixa pombalina, ou até de Alvalade com o quotidiano semanal do espaço da antiga Expo 98?! É verdade que, durante o fim-de-semana, é assaltada por forasteiros. Incontestável que depois do pôr-do-sol, naquela hora em que o “lusco-fusco” antecipa a nostalgia da noite, muitos são os que aqui se refugiam. No entanto, nesta altura do ano e durante o dia (leia-se... desde a alvorada até ao anoitecer) a calma é uma constante.
Os tímidos raios solares que possam espreitar os nossos passos não são, ainda, suficientemente persuasivos para nos confrontarem com o aglomerado de pessoas que, por altura do Verão, já se tornou num frequentador assíduo.
A propósito destas deambulações pelo Parque das Nações, nada me apraz mais do que, nas manhãs de Sábado ou Domingo, de bicicleta em punho e pés nos pedais, percorrer os trilhos que por aqui foram construídos. Mas... Há sempre um “mas...”! Nada me parece mais vil do que ver pais a arrastar os filhos em berraria, pelos mesmos passeios, rumo ao “Vasco da Gama”, numa daquelas tardes em que o tempo que se impõe exige algo mais que centros comerciais. Pudesse eu sugerir um outro programa e decerto nomearia uma descontraída caminhada pela praia, um refrescante jardim e muitas brincadeiras à mistura.
Será falta de imaginação? Questiono... Terei sido a única a verificar que as crianças portuguesas já não sorriem como outrora?! Duvido!
Não será um comodismo egoísta o sujeitar dos mais pequeninos a um ambiente de stress e comida de “plástico”?

Coloco a hipótese das opções seguidas se basearem em factores económicos. Surge a questão: O custo de uma pequena viagem até à praia será maior do que aquele que está inerente à visita a um espaço onde proliferam os apelos ao consumismo?!

Poderei estar a analisar incorrectamente as motivações que determinam o comportamento das referidas famílias e a ser injusta. Quero acreditar que sim.
Talvez seja uma perspectiva baseada num reflexo da minha atitude pessoal. Não resisto a entrar no nomeado centro comercial sem realizar uma, exaustiva, expedição pelas lojas do costume... normalmente, as que comercializam jornais, livros, material informático, música e brinquedos. No entanto, tenho como “dito e certo” que um dia solarengo é sinónimo de um bela caminhada pedestre ou uma visita à praia. Acompanhada de uma garrafa de água, duas ou três barras de cereais e meia dúzia de euros tudo é possível. Despendioso?! Nem por isso, basta ser-se ponderado.

Releio a reflexão que aqui se apresenta. Confronto a minha tarde ideal com a daqueles seres que preferem o stress de uma multidão à descontracção da visão do mar... Mais uma vez, não me é possível compreender a opção!


Sugestão para os pais que por aqui passarem:

Se não são adeptos da praia ou o tempo não os seduzir, em Lisboa e não só, existem inúmeros jardins e parques infantis onde as crianças poderão dar azo ás suas brincadeiras sem estar sujeitas a ambientes pouco saudáveis.

A DECO divulgou, na edição de Abril da revista Proteste, um estudo sobre a segurança dos parques infantis que indica quais os locais a evitar e aqueles onde a segurança impera. Lamentavelmente, o estudo apenas está disponível online para associados.

Se desejar mais informações ou tornar-se sócio da DECO visitar o Site.


Ambientes e actividades saudáveis para as nossas crianças? Sempre!

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