terça-feira, maio 10, 2005

84. Enigma Continuação

O dia amanhecera solarengo e agradável mas no fim da tarde pequeninas nuvens surgiram no horizonte. O sino da igreja anunciava as dezanove horas quanto um leve aguaceiro a surpreendeu... Faltava uma hora para se encontrar com João.
Abalada pelos sucessivos e misteriosos telefonemas sentira-se pressionada a revelar-lhe a sua conduta pouco ou nada correcta. Não havia como fugir ao confronto.

Mil e um pensamentos invadiram a sua mente e todos a inquietavam ainda mais. Ele não iria perceber... nem aceitar mas a culpa era, exclusivamente, dela.

Três horas depois, Catarina, percebia que não se enganara. João não só não conseguiu compreender o que a levara a traí-lo como a acusara de ser egoísta, mesquinha, cínica e muito... muito pequenina. A discussão fora acalorada, a mágoa instalara-se e nenhum dos dois conseguiu encarar o outro. O relacionamento que mantinham há tantos anos terminara de forma brusca...

Os dias que se seguiram foram para ela os mais difíceis... tudo a entediava e, por uma ou duas vezes, cometera erros crassos no trabalho. Ao fim de uma semana admitiu finalmente que precisava de descansar e se afastar da rotina durante um par de dias.
A verdade é que nunca chegara a considerar a hipótese de vir a arrepender-se tão violentamente de tudo. Amava-o mais do que nunca...
Naquele Sábado o sol voltou a invadir cada recanto da cidade. Obrigou-se a sair de casa. Quando chegou à praia poucos eram os que por lá se aventuravam. Aquele lugar fora o palco de muitos dos momentos felizes que partilharam. O preferido dele... deles. Ali sentia-o tão próximo de si que se fechasse os olhos quase o poderia tocar.

Ao longe avistou dois vultos abraçados. Inexplicavelmente não conseguia afastar o olhar... Os contornos das suas silhuetas pareceram-lhe de tal forma familiares que ao conseguir distinguir-lhes os traços quase não se surpreendeu. João e Inês...

Agora percebia...

Catarina poderia até imaginar que compreendia mas, na verdade, nada sabia sobre o enredo que os amantes tinham engenhado.
Inês era uma bela mulher e João há muito que não lhe resistia... mas sendo o pai de Catarina o seu chefe não poderia simplesmente terminar o relacionamento e admitir o seu deslize... Era cobarde?! Sim! Ele sabia.
Juntos, ele e Inês, arquitectaram um plano por forma a abstraírem-se de qualquer suspeita e culpa.
Sabia que Carlos se apaixonara pela sua namorada e só não se aproximara dela por respeito... Bastara-lhe revelar ao amigo o seu romance para que este se insinuasse. A carência afectiva dela fizera o resto.
Naquela noite fora muito fácil esgueirar-se pela casa: Inês entretinha Catarina na cozinha, Joana tagarelava sem parar com Carlos e, ele, com o pretexto de ter de lavar as mãos acabou por ficar sozinho. Disfarçar a voz também tinha sido muito simples... sempre lhe disseram que imitava os outros muitíssimo bem. Viesse quem viesse ninguém poderia negar que tinha sido um óptimo actor.
Estava feliz?! Não tanto como tinha suposto...

Sem comentários: