segunda-feira, novembro 21, 2005

102. Devaneios de uma noite...


A tarde avançava sem nada de extravagante suceder quando o convite surgiu. Uma ida ao Chiado, uma visita à Fnac, a apresentação de um novo livro, Lídia Jorge oradora e um par de horas envolvida pelo mundo mágico dos livros. Impossível resistir.

Desci a Alameda, como quem flutua sobre as águas calmas de um mar tão sereno como o sono de um bebé, e aproximei-me da Baixa já a rasar as 19 horas.
Apressei o passo, na ânsia pura e descomprometida de não perder um único segundo daquele momento que antevia como enriquecedor e aprazível.
Subi as escadas sem sequer fixar a mirada nas pessoas que por mim passavam e quando entrei no recinto sombrio mas acolhedor bebi... bebi as palavras que se desprenderam daquela voz bem colocada e dei asas ao sonho.

Será alguma vez me sentarei naquela cadeira e de mãos nervosas ajustarei o microfone à minha baixa estatura?! Ou me inclinarei sobre a mesa para me desviar da luz de um qualquer foco que me impede de ver os rostos à minha frente...?! Mas acima de tudo e o mais importante, será que algum dia deslizarei os dedos pela capa dura de um livro onde figurará o meu nome, sabendo que haverá alguém com quem partilhar o que, com tanto carinho, criei?! A incerteza estimula a mente e garante a força necessária para continuar a sonhar, que é como quem diz... lutar!

Quando por fim me atrevo a desviar o olhar do palco improvisado dou-me conta da presença de três dezenas de pessoas que, mais ou menos, atentamente seguem o cativante discurso.

Há uns anos tive uma página na internet... Também eu!

Já não a tenho, começou a dar muito trabalho… Eu ainda…

No início o parco conhecimento em linguagem html, javascript e afins limitou-me a criatividade e quase desisti. Muitas foram as horas dedicadas a adquirir os necessários conhecimentos para apresentar um "recanto" que pretendia personalizado.

O pequeno embrião cresceu e hoje assemelha-se a um pequenito que começa a gatinhar. É com orgulho mas também humildade que o digo. É o menino dos meus olhos!
Em formato de blog, na maior biblioteca que o mundo possui, lá está ele. Porque gosto de escrever! Porque gosto de partilhar as palavras, as frases, os contos, as crónicas, os poemas... os rabiscos das horas incertas!

Um ano depois, valeram a pena as muitas horas roubadas ao sono, aos passeios, aos amigos… e quase diria, se me atrevesse a tanto, à vida. Mas não atrevo… porque nenhum minuto foi em vão.
O prazer de saber que algures alguém lhe dedica meia-dúzia de minutos compensa o cansaço que se possa acumular e os momentos de puro lazer que, por ele, foram comprometidos.

Nunca pensei converter estes contos num livro.

Sorri. Sempre gostei de sorrir…e ali fiquei, de pés fatigados e olhos doridos pelas muitas horas em frente do computador. O coração palpitante, a mente aberta e os ouvidos atentos denunciavam o encanto que me envolvia quando, de mim para mim, tecia as mais diversas considerações sobre cada frase que escutava.

Já no fim da sessão comprei o livro, "O amor por entre os dedos", cujo autor /escritor define como sendo um livro de contos narrados num tom inverosímil, por vezes a roçar o non-sense..

Duas ou três horas depois, o livro pousado sobre a mesa de madeira, li atentamente as primeiras páginas e confesso-me culpada deste mau hábito de, mais que ler, analisar.

Se tivesse que elaborar uma recensão talvez focasse o humor e a ironia que sustinham os enredos. Mas, mea culpa, gosto dos floreados das grandes descrições que os clássicos nos apresentam; daquela linguagem ornamentada e rebuscada que ainda persiste nos livros de alguns, poucos, autores da actualidade e que bem era apresentada por Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Antero de Quental ou Júlio Diniz… para não me alongar nos sonantes nomes que poderiam ser mencionados a título de exemplo.

Ora, António Manuel Venda, o jovem escritor de quem falo, adopta as palavras simples, e num primeiro impacto, ao mais desatento e "quadrado" leitor, parecerá que lhes falta encanto. Errada conjuntura. Falta encanto a quem as ler impregnado de ideias pré-concebidas sobre literatura. Acuso-me de me ter encaixado nesse perfil mas, votado o estado de espírito menos aberto e tolerante ao descrédito, a verdade é que adorei… adorei aquele conjunto de textos romanceado e bem-humorado; a tal ponto que se voltasse a entrar naquela sala aplaudiria com mais convicção o escritor e o senhor escritor que me recordou que cada livro é um… Livro!

14 comentários:

nspfa disse...

Eu como não tenho a arte da Maria para floreados e ornamentos, digo assim de forma simples que estarei no meio da audiência no dia em que a Maria apresentar o seu livro. E também irei de passo apressado para não perder o momento em que, sentada na cadeira e de mãos nervosas, ajustar o microfone à sua estatura.

Tino disse...

Maria,eu também quero ir!!!! Já não falta tudo,já tens a forma de escrever dos grandes...basta pôr tudo em prosa! :)
Um beijinho para a minha miguinha linda! Tou com fézada em ti,Maria!! :):)

Tino disse...

Ah! e o blog está um espanto!!! Vamos ter que falar sobre isto!!!!Eu também quero!!
Beijinho fofo :)

nspfa disse...

Agora que vi os comentários do tino reparei que me esqueci de lhe dar os parabéns pela nova imagem do seu blogue. Gosto muito da conjugação de cores, do manto rosa esbranquiçado e, claro... do cão!:-)
Quanto ao resto, como não sou grande entendido em pintura, não posso comentar, só apreciar!

Só uma pergunta: foi o Tino que pintou o quadro? Eu achava querido

Maria disse...

Luís,
Como vê, também eu não deixo de sonhar, nem de lutar. Mas a vida é mesmo assim e é isto que nos faz continuar a sentir tão vivos.
Se vou ou não tornar real o sonho, quem sabe?! Para já, é com carinho que recebo as suas palavras e as de todos aqueles com quem tem sido possível partilhar este cantinho.

Agradeço os parabéns pelo novo rostito do EE e acrescento que, por muito que goste do Tino e dele seja amiga, o quadro não é dele.
É de Gauguin, um dos meus pintores preferidos.
Tal como o Luís, não sou uma entendida em pintura mas pelos "ossos do ofício", que para já não exerço, tive que aprender uma ou outra coisa.

Um beijinho e até breve.

Maria disse...

Tino,
Queres ir?! E teres que ouvir-me pela milésima vez falar dos enredos que, por essa altura, já saberás de cor... não será penoso?!
Estou a brincar contigo, querido.
É bom ter amigos como tu!

...quanto ao novo visual: "Vamos ter que falar sobre isto!!"
Em breve! :) Prometo!

Beijinho grande para ti.

Anónimo disse...

Bom Dia !

Maria ... não está assim tão longe e eu também estarei na audiência/leitores! Essa é uma convicção e um desejo! Quando chegar a hora do livro de Maria Nunes, será uma hora de entusiasmo, na certeza de uma leitura cativante, que o Amor à escrita, a transpiração e o Dom inerente que possuis transportará !
Bjinho grande, Maria !Força ....Huug!

Daniel Aladiah disse...

Querida Maria Nunes
Verdade... tanta escrita e tão pouca gente para a ler... e nem temos tempo para ler tudo... o mundo tornou-se demasiado grande e só aspiramos a sorver uma pequena parte, que seja ao menos suficiente para que possamos dizer que valeu a pena.
Um beijo
Daniel

lena disse...

força Maria, seria um prazer ter entre as minha mão um livro teu e faria os possíveis para assistir ao seu lançamento

leio-te e sinto como me toca cada verso teu

és grande em tudo o que escreves

beijinhos meus


lena

A. Narciso disse...

Faço votos para que o sonho se torne realidade. E sem dúvida, cada livro é um livro!

Maria disse...

cbRicardo,
confesso que fiquei sem saber o que escrever.
Por brincadeira costumo dizer que "lido mal com elogios" pois fazem ressurgir, em força, a velha timidez. Assim sendo, como resposta ao que referiste só posso desejar que este blog continue a merecer a atenção e o carinho que lhe tem sido dedicado.

Beijinhos e obrigada pelo incentivo.

Maria disse...

Daniel,
concordo inteiramente.
Se pudesse transformava as 24 horas do dia no dobro para poder dedicar mais tempo à leitura.

Beijinhos

Maria disse...

Lena,
obrigada pelo comentário que aqui deixaste mas atrevo-me a dizer-te que nada do que tu escreves fica atrás do que aqui edito, muito pelo contrário.

Beijinhos para ti.

... e a quem não conhece o blog Cabana de Palavras deixo a sugestão de uma visita

Maria disse...

Alexandre,
Obrigada pelos votos e pela visita que gostei de voltar a receber.

Um beijinho para ti