quinta-feira, abril 28, 2005

80. BookCrossing



Uma... duas... três semanas passaram desde que João encontrou o livro no anfiteatro da Gulbenkian. Engenheiro electrotécnico de profissão, não o entusiasmam livros que não os técnicos mas sente, há muitos anos, um especial fascínio por Da Vinci. Talvez por isso tenha, no final daquela tarde, folheado as páginas do famoso exemplar com alguma expectativa. Incapaz de interromper a leitura redescobriu o prazer de ler... Os seus olhos percorreram cada frase, com incontestável interesse pelo enredo que se revelara, inesperadamente, apaixonante.
Nos dias que se seguiram, muitos foram os amigos que o ouviram falar daquele aglomerado de folhas amarelecidas que de forma inusitada chegara até si.
Joana é membro de um grupo de leitura que engloba pessoas de várias nacionalidades e quando o ouviu relatar o episódio não se conteve:

- Provavelmente alguém se esqueceu dele...

- Não acredito... Eu tinha comprado o jornal e resolvi sentar-me no anfiteatro. Àquela hora não havia quase ninguém por lá. Bem vi quando uma rapariga o deixou num dos bancos. Estranhei. Quando me fui embora passei junto ao local onde o tinha colocado... Li o título e como estava abandonado trouxe-o comigo. – retorquiu ele.

- A Gulbenkian é um dos locais onde habitualmente abandonamos livros... Não reparaste se tem um símbolo com um livrito com asas?

- Não... por acaso não. Nem me tinha recordado desse disparate que vocês têm de deixar assim os livros. Com os preços que têm...

- Não é um disparate, João...

Ficou intrigado. Mal entrou em casa propôs-se a desvendar o “mistério” e qual não foi o seu espanto quando se deparou com o pequeno logotipo do Bookcrossing.
Este foi o primeiro contacto que teve com o movimento que no nosso país tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos.
Os livros são caros, é verdade. Perder um assemelha-se a ficar-se espoliado de um tesouro mas emprestá-lo é permitir a outrem descobrir a magia que poderá abarcar na sua singela existência. Esta foi a constatação que levou João a inscrever-se como membro desta grande família de leitores. Hoje, tem duas dezenas de livros a circular por Portugal ou quiçá até pela Europa. Certo é que, partilhar estes bens que tem como preciosos, o satisfaz de forma muito positiva. Já ninguém se admira quando, entre um e outro café, lança o tema sobre a mesa e tenta motivar os restantes para a iniciativa. Fui apanhada nesta sua trama... e como ele não perco a oportunidade de a divulgar...
“O Bookcrossing é um clube de livros global, que atravessa o tempo e o espaço. É um grupo de leitura que não conhece limites geográficos. Os seus membros gostam tanto de livros que não se importam de se separar deles, libertando-os, para que possam ser encontrados por outros.
O objectivo do Bookcrossing é transformar o mundo inteiro numa biblioteca.”

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